segunda-feira, 3 de março de 2008

América do Sul em perigo: a agressão colombiana


O recente ataque da Colômbia à fronteira equatoriana coloca em risco a estabilidade e a paz na América do Sul, região que não conhece conflitos entre suas nações há décadas. A agressão foi uma decorrência da eliminação do número dois das Farc – Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, Raúl Reyes, morto com outros 16 guerrilheiros, após um ataque do exército colombiano a pouco mais de 1km dentro do Equador. O governo de Álvaro Uribe autorizou seu exército a invadir uma nação soberana, ferindo as Leis internacionais e colocando em risco a paz neste lado do continente.

Não há qualquer justificativa para a invasão colombiana. Se a presença de traficantes, terroristas e guerrilheiros servisse para justificar agressões, países como Brasil, EUA, Espanha ou quaisquer outros Estados soberanos deveriam ser invadidos periodicamente, pois são rota de toda sorte de marginais, além -muitas vezes- de serem residência de vários deles, caso do megatraficante colombiano Jorge Abadía. Como declarou a moderada presidente do Chile, Michelle Bachelet, "a Colômbia deve explicações ao Equador e a todos os países da região".

Como fiel aprendiz dos EUA, a Colômbia tenta agora acusar o Equador –país claramente inferiorizado em forças militares- de estar mancomunado com as Farc e de ser conivente com as ações da guerrilha, mencionando "documentos" que teriam sido encontrados junto aos militantes mortos, comprovando a ligação "estrutural" entre equatorianos e guerrilheiros. A cena lembra o depoimento fraudulento do ex-secretário de Estado norte-americano Colin Powell, junto à ONU, apresentando coordenadas, fotos e documentos falsos, numa tentativa de legitimar a invasão ao Iraque.

Embora Uribe tenha seus méritos junto à sua própria população e direito de combater a guerrilha em seu território, a invasão à fronteira equatoriana deixa claro que o governante colombiano conta com o respaldo americano para esta ação, sem temer indispor-se com as outras nações da região ou um conflito direto não apenas com o Equador, mas com o atual protetor dos países anti-EUA do continente: Hugo Chávez.

Da mesma forma que os EUA se arvoram em ser "protetores" de parte da humanidade ou de seus satélites, o líder venezuelano também tem pretensões na região e é sério candidato a interpretar papel semelhante ao dos norte-americanos. Sabe-se que, hoje, a Venezuela conta com o exército mais bem equipado da América do Sul. Num conflito direto entre países, dificilmente a Colômbia se daria bem sem o apoio explícito do governo Bush.

Recentemente, Hugo Chávez estabeleceu um pacto de defesa conjunta com os países mais à esquerda do continente, justamente Equador, Nicarágua e Bolívia. É impossível que Uribe não soubesse estar mexendo num vespeiro e que não contasse com o apoio dos EUA para sua incursão em território equatoriano. A situação, portanto, é extremamente delicada. É hora da diplomacia dos governos Lula, Cristina Kirchner e Bachellet agir rapidamente, para impedir que o pior aconteça na América do Sul.