sexta-feira, 8 de junho de 2007

“Os 99”: surge primeiro super-herói muçulmano


É um pássaro? É um avião? Não, é Os 99 (em inglês, The 99), primeiro ‘comic’ árabe do mundo, formado por uma liga de super-heróis cujos poderes são derivados dos 99* atributos de Allah.

Criado pelo psicólogo kwaitiano Naif Al-Mutawa, Os 99 conta com heróis com traços semelhantes aos dos similares ocidentais. “Sou admirador de Homem-aranha e Batman”, confessa Al Mutawa, que se formou nos EUA, na Universidade de Long Island. Sobre a origem da HQ islâmica, ele conta: “Os 99 é um grupo de super-heróis baseado nos 99 Atributos de Allah. Virtudes como generosidade, força, sabedoria (...). Estes são atributos que o Islã compartilha com todas as civilizações, mas infelizmente não são adjetivos que se costume usar para descrever o Islã na mídia hoje em dia”.

A trama de Os 99 começa no século 13, quando os mongóis invadem Bagdá para destruir a civilização árabe e, com ela, a sabedoria do califado. Para preservar este conhecimento, criaram-se 99 pedras preciosas que reúnem este saber e que foram levadas ao lugar mais distante do império: o reino de Granada, em Al-Andaluz. Depois da reconquista católica, as pedras foram espalhadas pelo mundo, permanecendo em lugares desconhecidos até a atualidade. Quem as encontra adquire super-poderes, originados dos próprios Atributos de Deus (Allah, em árabe).

Biótipo árabe

Os super-heróis de Os 99 são inspirados fisicamente nos biótipos árabes: homens morenos e fortes; mulheres morenas ou negras. As mulheres que aparecem no gibi não usam roupas coladas ao corpo, marcando as formas. Algumas se vestem como as ocidentais, com os cabelos à mostra, enquanto outras usam um discreto e elegante lenço -conhecido também como 'chador' ou 'hijab' entre os muçulmanos. O líder do grupo de super-heróis, no entanto, é o dr. Ramzi, um intelectual branco que convive com presidentes e reis, e que se veste com roupas das marcas Boss e Armani.

Os 99 é distribuído nos países muçulmanos não integristas (ou fundamentalistas), como Kuwait, Emiratos Árabes Unidos, Omán, Egito, Jordânia, Marrocos e área islâmica do Chipre. Informações sobre a saga dos novos super-heróis pode ser lida em inglês ou árabe, em
www.the99.org. De acordo com um dos desenhistas da HQ, o espanhol Paco Díaz, "um dos objetivos de Os 99 é romper com os estereótipos relacionados com o medo a tudo o que é árabe ou lembra fundamentalismo”.

Site

Os 99www.the99.org

Os 99 Atributos de Allah - Segundo o Islã, Deus se manifesta no mundo através de 99 atributos, como Força, Clemência, Misericórdia, Justiça etc. Para conhecer todos os 99 Atributos de Allah, clique aqui para conhecer quais são.
Video

Os 99 Belos Atributos de Allah - Video maravilhoso. Vale a pena conferir!

Livro

Los Más Bellos Nombres de Allah - Livro completo em espanhol do grande mestre e sheikh sufi da Ordem Halveti-Jerrahi, Tosun Bayrak.

quinta-feira, 7 de junho de 2007

Terrorismo de grupos e terrorismo de Estado: Qual a diferença?



Al Qaeda. Setembro Negro. ETA. IRA. Baader-Meinhoff. Sendero Luminoso. Todos estes grupos têm -ou tinham- em comum uma atividade bastante conhecida: o terrorismo. Trata-se de um dos males do mundo moderno, utilizado como método por aqueles que pretendem dominar os adversários através do medo e do pânico.

Após o 11/09 nos EUA, contudo, a visão do terrorismo mudou. A prática passou a ser automaticamente associada à religião islâmica. Em pouco tempo, centenas de atentados ocorridos nos últimos 100 anos -perpetrados por grupos de ideologia e fé diferentes, sem qualquer relação entre si- cederam lugar à versão mais cômoda do fenômeno: é 'muçulmana’. Desde então, 1,4 bilhão de seres humanos vêm sendo alvo preferencial da mídia, classificados aberta ou potencialmente como terroristas. Professar o islamismo ou ter nome de origem árabe virou justificativa para a desconfiança, o preconceito ou o racismo explícito.

No entanto, o terrorismo acompanha o mundo desde que o ser humano se organiza em Estados e jamais foi privilégio de grupos ou células suicidas. O terrorismo de Estado pode ser identificado nas ações de imperadores dementes como Nero (que colocou fogo em Roma), Calígula (cuja máxima era “não importa que me odeiem, desde que me temam”) e Heliogábalo. As práticas dos conquistadores espanhóis, que mataram cerca de 1 milhão de indígenas no México, são uma clara ação de terrorismo de Estado; bem como as prisões e torturas da Inquisição promovidas pela Igreja Católica.

No século 20, o terrorismo de Estado ganhou estatura de genocídio, inaugurado com a chacina de mais de 1,5 milhão de armênios pelos turcos; e pelas máquinas de tortura, pavor e morte dos stalinistas e nazistas. Tanto o Estado –ora de esquerda, ora de direita- como grupos de todas as cores ideológicas serviram-se do terrorismo.

Mídia pró-terrorismo de Estado

Apesar de ficar evidente que Estado e grupos autônomos são capazes de usar as mesmas armas, os meios de comunicação mostram o terrorismo como se houvesse sido ‘fundado’ pelos muçulmanos. Ao mesmo tempo, legitimam a ação anti-terrorista de nações que violam leis e resoluções internacionais, invadem países, saqueiam bens materiais e culturais de outros povos. Tais Estados -que dizem agir em nome da Lei e da democracia (que funciona apenas dentro de seus países)- têm suas ações mascaradas pela imprensa, sem que sejam consideradas uma variável do mesmo terrorismo que dizem combater.

A morte de 650 mil civis no Iraque desperta menos indignação do que a morte de 3 mil pessoas nos EUA, no WTC. Pior: numa clara tentativa de manipulação da opinião pública e de endossamento do terrorismo de Estado, tenta-se mostrar o holocausto no Iraque como se fosse de responsabilidade direta dos próprios iraquianos, em razão das lutas de seitas religiosas. Omite-se que a invasão norte-americana lançou o país num caos profundo, assim como a participação de milhares de mercenários em atentados e ações terroristas, a soldo das grandes corporações e como força ‘auxiliar’ do exército ianque.

O que é terrorismo?

Especialistas afirmam que o terrorismo consiste em: a) provocar o terror junto à população civil, através de atentados e ações violentas e inesperadas; b) intimidar as autoridades legalmente constituídas; c) tripudiar a vida e todas as suas manifestações, como cultura e religião.

Se estas são as características do terrorismo, por que potências como EUA e Rússia, que renegam a ordem internacional e invadem nações (Iraque) ou províncias militarmente inferiorizadas (Chechênia), levando a morte e o terror a milhões de pessoas, recebem tratamento diferenciado da mídia? Por que a mídia internacional destaca o covarde atentado à escola infantil em Beslan, e se cala perante o genocídio a que vem sendo submetido o povo checheno? Ou por que Estados como Israel –que destruiu a infra-estrutura do Líbano, matou 2 mil pessoas em função do seqüestro de dois soldados em sua fronteira e confina diariamente mais de 1 milhão de seres humanos nos territórios descontinuados da Palestina- não recebem da mídia o mesmo nome que é dado àqueles que matam civis sem dó nem piedade?
Apêndice

Dostoiévsky, primeiro analista - Como ação de um grupo de pessoas determinadas a atingir objetivos políticos através do medo, o terrorismo foi analisado pela primeira vez pelo romancista russo Fiodor Dostoiévsky, em “Os Demônios”, em 1872. O livro aborda uma célula de terroristas (ou ‘niilistas’) ateus, que são tão devotados à sua causa como os mais fanáticos religiosos. “Os Demônios”, inspirado na vida do niilista Nechaiév, previu a violência na Rússia, bem como a morte do czar Alexandre II e a tomada do poder pelos bolcheviques, em 1917.

Livros

O Homem revoltado – Albert Camus, editora RCB
As aventuras da dialética - Maurice Merleau-Ponty, Martins Fontes editora
Sites

Lista de sites contra o terrorismo de grupos - Anti-terrorism links
Centro de pesquisa do terrorismo - Terrorism Research Center
Informações sobre o Iraque ocupado - Uruknet
Guerra no Iraque e Estado de exceção global - Equipe Nizkor
Vítimas do terrorismo de Estado - Memória, Verdade e Justiça
Direitos humanos - Derechos Human Rights
A visão americana do terrorismo – @journalUSA