A recente descoberta de carros-bomba em Londres, na Inglaterra, desencadeou no mundo ocidental mais uma avalanche de anti-islamismo e de manipulação de informações e conceitos por parte da mídia. Embora nada tenha acontecido de efetivo –exceto a descoberta de veículos carregados com material com potencial explosivo-, a imprensa ocidental transformou uma tentativa de atentado em atentado de fato.
Imediatamente na seqüência da descoberta destes veículos, no dia 30 de junho, um carro explodiu ao bater numa parede do aeroporto de Glasgow, sendo definido como “atentado terrorista” antes mesmo de qualquer averiguação da polícia britânica. Soou então o alerta vermelho não apenas na Inglaterra, mas na casa de seus patrões, os EUA. Com ele, foi deflagrada uma nova onda histérica, acompanhada de mais uma caça às bruxas (leia-se 'comunidade islâmica'). O monstro terrorista, que se explode e leva consigo criancinhas e inocentes indefesos em restaurantes, está à espreita novamente. Jornais como o inglês “The Times” escrevem que não apenas os muçulmanos radicais, mas também os moderados, são potencialmente responsáveis por não declararem sua aversão ao terrorismo.
Este tipo de comportamento da grande mídia ocidental não é de se estranhar, uma vez que quase toda ela é muda e subserviente aos desmandos e ao terrorismo oficial de Estados Unidos, Inglaterra e Israel, que invadem nações e territórios, violando continuamente as Leis Internacionais e as Resoluções da ONU. Israel, por exemplo, só se lembra da ONU para mencionar a resolução (aliás extremamente controversa) que deu origem a seu país. Quando se mencionam as mais de 60 resoluções não acatadas, a resposta das autoridades israelenses é invariável: “A ONU é um organismo antiamericano ou dominado por países árabes”.
Dentro destes países, muito além da realidade ‘real’, as ameaças terroristas são usadas como forma de colocar um cabresto na opinião pública e justificar mais intervenções contra outros povos, além de estigmatizar a oposição e aterrorizar estrangeiros residentes. “Se eles não gostam de nossa sociedade aberta, que voltem para seus países de origem”. Ou “eles se aproveitam de nossas democracias para miná-las internamente, que vão embora”. Por trás destes chavões surrados, oculta-se uma política que visa legitimar o preconceito racial e que pretende criar aparthaids contra imigrantes islâmicos, apresentando-os como incapazes de viver em sociedade. Pretende-se, também, mostrar a política norte-americana para o Oriente Médio como indispensável para ensinar aos ‘bárbaros’ islâmicos o que é democracia. Naquela região, uma vida inglesa, israelense ou norte-americana vale mais do que a de 500 mil iraquianos -número de mortos desde a invasão do Golfo, de 1991 até a queda de Saddam, em 2003, em consequências da contaminação pelo uso de bombas de urânio empobrecido. “É o preço a pagar pela liberdade”, como ensinou a ex-secretária norte-americana do governo Clinton, Madeleine Albright.
Se é verdade...
Se é verdade que os ataques terroristas mataram 3 mil pessoas nos EUA, também é verdade que o terrorismo de Estado norte-americano já é diretamente responsável pela morte de 1 milhão de pessoas no Afeganistão e Iraque, além do deslocamento de 6 milhões de seres humanos para países como Síria, Irã e Paquistão, criando novos barris de pólvora na região, sem infra-estrutura adequada para abrigar tanta gente.
Se é verdade que o terrorismo palestino ou islâmico matou cerca de 2 mil pessoas em Israel ao longo de 30 anos, também é verdade que Israel já matou mais de 50 mil civis e inocentes no mesmo período, sem contar militantes jihadistas e os mortos pelo terrorismo oficial daquele país, batizado de “assassinato seletivo”. Para Israel, EUA e Inglaterra, a mídia sempre dispõe de algum eufemismo para suavizar suas ações, tais como “assassinatos seletivos” no lugar de terrorismo; ou “ocupação”, em vez de “invasão”. Consciente ou inconscientemente, retoma-se o mesmo vocabulário do tempo da colonização britânica na Índia ou Oriente Médio.
Pequena lista de mentiras, distorções e omissões da mídia
Governo “terrorista” do Hamas – Eleito democraticamente no começo de 2006, antes mesmo que tomasse posse ou que adotasse qualquer tipo de conduta pró ou contra-Israel, o novo governo foi boicotado pelos EUA e nações ocidentais, e o dinheiro dos impostos palestinos foi confiscado por Israel. Sim, é verdade que o Hamas é inimigo figadal de Israel. No entanto, antes de qualquer tentativa de negociação, um governo democraticamente eleito foi sabotado, e mais de 2 milhões de pessoas foram deixadas à míngua, confinadas em dois territórios de maneira ainda mais indigna do que antes. O resultado foi uma briga fratricida entre milhares de desempregados, já atolados no banditismo comum a sociedades marginalizadas. Agora, Abbas surge como único representante legítimo da Palestina e Israel mostra sua “generosidade” ao repassar, mais de 1 ano depois, o dinheiro que sempre pertenceu àquele povo.
Em São Paulo, um dos quatro maiores jornais online do país, durante a data de aniversário dos 40 anos da Guerra dos Seis Dias, em 1967, entre Israel e países árabes, publicou exclusivamente o ponto de vista israelense (no dia 2 de junho), violando o princípio mais básico do jornalismo, que é ouvir a voz de todos os envolvidos em igualdade de condições. Apenas a partir do dia 5 de junho, a versão árabe foi apresentada.
Também há pouco mais de um mês, outro veículo da grande imprensa paulistana distorceu uma notícia sobre a morte por apedrejamento de uma jovem no Curdistão iraquiano. A culpa recaiu sobre os muçulmanos, sempre apresentados convenientemente como bárbaros incapazes de decidir seu próprio destino. No caso em questão, a jovem foi apedrejada por membros da seita zaidista, por haver se convertido ao Islã para se casar com um muçulmano. Exatamente o oposto do difundido pela referida publicação.
A imprensa pró-Ocidental se esforça continuamente para descaracterizar a insurgência iraquiana, classificando-a e a todos que combatem as forças americanas naquele país como “terroristas”. A mídia vende o conflito como uma guerra étnica, entre sunitas e xiitas. A presença de mais de 200 mil mercenários a soldo do exército norte-americano e das corporações petrolíferas simplesmente é omitida, bem como as ações das agências de inteligência na região.
O mesmo veículo de comunicação que omitira a visão árabe da Guerra dos Seis Dias, chega –por ocasião dos novos “atentados” na Inglaterra- ao absurdo de escrever que a preferência dos terroristas pela capital inglesa se deve ao fato de a Inglaterra ser uma sociedade aberta (como se os terroristas não cometessem atentados também na Argélia, no Marrocos, no Iêmen e até mesmo na Coréia do Norte) e ser forte candidata a centro financeiro mundial (Quais as grandes empresas inglesas? No que a Inglaterra se fortaleceu como centro financeiro mundial, desde a devolução de Hong Kong à China? Desde quando um artigo de “The Independent” serve como base para alguma afirmação econômica definitiva?). Não seria apenas por que a Inglaterra, junto com os EUA, invadiu o Iraque? Quantos atentados islâmicos houve na Grã-Bretanha antes da invasão anglo-americana ao Iraque?
A mídia não divulga, por exemplo, que, em janeiro de 2007, pesquisa realizada pelo Instituto Gallup –o de maior credibilidade em todo o Ocidente- mostrou que apenas 7% dos 1,4 bilhão de muçulmanos são favoráveis ou justificam, de alguma maneira, o terrorismo. Motivo: não interessa melhorar a imagem dos muçulmanos no mundo.
A mídia também omite que, hoje, cerca de 2/3 dos muçulmanos no mundo vivem em países democráticos ou nos quais a democracia avança.
Por trás das informações lançadas de forma bombástica ou distorcida ao público ocidental, percebe-se a verdadeira vocação da mídia servil aos interesses do capitalismo selvagem: a manipulação.
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