sábado, 2 de junho de 2007

Um disco revolucionário


É impossível deixar passar em branco os 40 anos do mais importante disco do pop-rock: no dia 1 de junho de 1967, era lançado Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band. É igualmente difícil manter-se isento e não demonstrar admiração (e paixão) por um trabalho que inovou não só um gênero musical, mas também a arte e o comportamento humano.

Música: Sgt. Peppers trouxe para o pop a estrutura da música clássica. O disco criava uma linguagem única, semelhante a uma sinfonia, onde o final de uma música dá início a outra.
Sgt. Peppers reúne também vários estilos musicais, muitos deles tocados simultaneamente, como não se vira até então no rock, caso das músicas indiana (com cítara), circense, charleston, jazz, dentre outros.
Sgt. Peppers revolucionou também o conceito de gravação e mixagem à época, com peripécias tecnológicas que ainda hoje são pouco compreendidas. Tudo sob a batuta do grande maestro George Martin, o “quinto (e mais elegante) Beatle”.
Sem Sgt. Peppers não haveria, no Brasil, Os Mutantes, O Terço, 14 Bis, Milton Nascimento e Clube da Esquina (Lô Borges e cia.). Tampouco rock-progressivo. Possivelmente, nem ‘new age’ ou ‘world music’. Todos seriam, no mínimo, outra coisa.

Artes plásticas: A capa do disco é de fazer inveja a Andhy Wharol, Roy Lichtenstein e outros adeptos da Pop-art: é a síntese do mundo urbano-pós-pós-moderno, que abrange todas as épocas, mesmo as ainda por vir. Nela, vêem-se ícones da sociedade de massas, como Tarzan, Marilyn Monroe, Fred Astaire, Marlon Brando e Marlene Dietrich, ao lado de clássicos da cultura como Prokofiev, Karl Marx, Oscar Wilde, Freud, Edgar Allan Poe (que viria a ser citado na letra de ‘I’m the Walrus’). Uma paródia de si mesmos (os Beatles em seu início) também está presente.

Comportamento: Sgt. Peppers escancara definitivamente a fase psicodélica dos Beatles -que começara com o disco “Revolver”- e sua entrada na maioridade. Pouco antes do disco, eles haviam declarado que não fariam mais shows ao vivo, em função da balbúrdia, som ruim e dos riscos aos quais estavam sujeitos -numa das apresentações, quase foram eletrocutados, ao cantar sob chuva.

Os Beatles abandonam então o visual comportado para adolescentes e passam a vestir-se com roupas coloridas, sem submeter-se às exigências das gravadoras, adotando o uso de bigode (posteriormente barba), flertando com religiões orientais, assumindo seus próprios projetos. Nascia o ‘flower power’.

Faixas

Na seqüência, o blog “Liberdade de Expressão e Cultura” torna disponíveis todas as faixas de Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band. O título de cada música, acompanhada também por algum comentário, é também um link para um video ou áudio.

Lado A

Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band/ With a little help from my friends – As primeiras imagens do vídeo ora postado são de outra grande personalidade do rock’n’roll. Quem será? Clique para saber. Depois, um vídeo inédito com a música que deu o título ao disco e With a little help from my friends, na voz do sempre simpático e bem-humorado Ringo Starr.

Lucy in the Sky with Diamonds – Levantou a polêmica de que suas iniciais seriam uma “homenagem” de John Lennon (verdadeiro autor) ao LSD. Detalhe: à época, Lennon já conhecia as idéias do guru da droga, Timothy Leary.


Getting Better, Fixing A Hole e She's Leaving Home (acabou se tornando o hino de todas as garotas que saem de casa. Típica do estilo Paul Mcartney, como “Eleanor Rigby”) podem ser ouvidas em sequência, neste link.

Being For The Benefit Of Mr. Kite! – Há uma declaração curiosa de Lennon sobre esta música, a respeito dos críticos que viviam então fazendo análises sobre suas canções: “Os críticos vivem dizendo que esta é uma música muito profunda; tentam sempre encontrar significados ocultos nela. Mas a verdade é que não há nada aí. Eu apenas amontoei palavras. Nada além disso.”

Lado B

Within you without you – Um manifesto da fusão Oriente-Ocidente pelo mais ‘zen’ dos Beatles, George Harrison. Esta não foi a primeira música na qual os Beatles usaram a cítara –que introduziram o instrumento no Ocidente através de Ravi Shankar, professor de Harrison.

When i’m 64 (idade que Mcartney está comemorando este ano), Lovely Rita e Good morning, Good morning. As três músicas podem ser ouvidas, na seqüência, neste clipe (só imagem, sem movimento).

A Day in the life – Esta sim a mais profunda música do disco, num vídeo com imagens pouco conhecidas dos Beatles.


sexta-feira, 1 de junho de 2007

Torturadores no Chile rompem silêncio




Após a morte de um dos mais sanguinários ditadores da América Latina, Augusto Pinochet, torturadores ligados ao seu regime (1973-1990), no Chile, começam a aparecer e depor nos tribunais daquele país, dando indicações sobre lugares de extermínio e fornecendo informações sobre seu “trabalho”.

Com o fim do chamado “pacto do silêncio” –cuja proposta era ‘esquecer’ casos de tortura e desaparecimento no Chile, em troca da democracia naquele país-, mais de 80 algozes foram presos ou se ofereceram para depôr sobre como agiam durante o governo Pinochet.

Uma das revelações mais importantes foi a de que o próprio general Pinochet freqüentava os locais de tortura, participando dos interrogatórios dos prisioneiros, para encará-los e ameaçá-los. A história foi contada por Ricardo Laurence, coronel dos “carabineros”, que deu detalhes sobre os ‘diálogos’ travados entre o ditador e dirigentes comunistas encarcerados, como Víctor Díaz e Mario Zamorano. Num deles, Pinochet teria dito para que “parassem de opor-se ao seu governo”. Díaz, que então já contava oito meses de torturas, respondeu que “tentar acabar com o PC (Partido Comunista) era como querer secar o mar com um balde”. O ex-verdugo Ricardo Laurence disse ao tribunal que jamais se esqueceu deste encontro e da resposta inesperada do prisioneiro.

Também descobriu-se que havia equipes inteiras de torturadores, com suporte e metodologia para evitar que os corpos dos opositores fossem reconhecidos. Nada era improvisado. Depois de mortos, as impressões digitais e os rostos eram queimados. Na seqüência, os dentes eram extraídos e eram enterrados ou jogados ao mar. E quando a volta à democracia se tornou inevitável, a então agonizante ditadura providenciou para que os corpos de seus inimigos fossem exumados e dinamitados, para não restasse nada que permitisse identificação.

Segundo Eduardo Contreras, advogado e jurista ligado aos grupos de direitos humanos chilenos, a morte de Pinochet retirou a sombra que amedrontava os antigos torturadores e os impedia de pronunciar-se sobre os ‘anos de chumbo’. No entanto, há menos de uma semana, o suposto suicídio de Carlos Marcos, um dos antigos torturadores, levou o Chile a questionar até que ponto os antigos repressores continuarão colaborando com a verdade. “Talvez ele tenha sido induzido ao suicídio”, observa Contreras, lembrando que Marcos era um dos que mais informações tinha sobre as operações do regime Pinochet.

O governo de Salvador Allende, primeira experiência mundial de socialismo eleito pelo voto até então, foi derrubado em 1973 pelos militares chilenos com apoio e participação ativa dos EUA, através da CIA. Morria o sonho de um socialismo democrático, levando junto a vida de grandes nomes da cultura e do humanismo, como o poeta e Prêmio Nobel de Literatura, Pablo Neruda (morreu de tristeza, poucos dias depois do golpe), e o grande cantor Victor Jara, que, antes de ser fuzilado no Estádio Nacional do Chile, teve suas mãos decepadas.


Videos relacionados

Pablo Neruda - Isla Negra
Victor Jara - El cigarrito

quarta-feira, 30 de maio de 2007

Dicionário do diabo


Ambrose Bierce (Estados Unidos, 1842-1914) foi um dos mais talentosos escritores norte-americanos. Iconoclasta, é considerado precursor do surrealismo, além de autor de um considerável número de histórias fantásticas, que o colocam junto a Edgar Allan Poe e Rudyard Kipling. Outra de suas principais características era o humor negro e ferino, como o comprovam trechos de uma de suas obras mais famosas, o “Dicionário do diabo”:

Agitador – Estadista que sacode as árvores do pomar do vizinho...para desalojar os vermes

Ar – Substância nutritiva com que a divina Providência engorda os pobres.

Altar – Lugar onde antigamente o sacerdote arrancava, com fins adivinhatórios, o intestino da vítima destinada ao sacrifício, e cozinhava sua carne para os deuses. Hoje, o termo é usado raramente, exceto para aludir ao sacrifício da tranqüilidade e da liberdade, que fazem dois idiotas do sexo oposto.

Aplauso – O eco de uma idiotice. Moedas com as quais o populacho recompensa aqueles que o fazem rir, para depois devorar.

Baco – Divindade convenientemente inventada pelos antigos, como desculpa para quem quer embriagar-se.

Bruto – Ver palavra “Marido”.

Convento – Lugar de retiro para mulheres que desejam ter tempo livre para meditar sobre o vício da preguiça.

Covarde – É como se chama aquele que, em uma emergência perigosa, pensa com as pernas.

Dívida – Engenhoso substituto da cadeia e do chicote do feitor

Êxito – É o único pecado imperdoável contra nossos semelhantes.

Fanático – É como se chama aquele que, obstinada e ardorosamente, mantém uma opinião diferente da nossa.

Fidelidade – Virtude que caracteriza aqueles que estão para ser traídos.

Filosofia – Caminho de muitas veredas, que conduz de nenhuma parte a lugar nenhum.

Radicalismo – O conservadorismo de amanhã, injetado nos negócios de hoje.

Vidente – Pessoa –geralmente mulher-, que tem a capacidade de ver o que parece invisível para seu cliente: ou seja, que ele é um idiota.

Voto – Instrumento e símbolo da vontade do homem livre de fazer de si mesmo um tolo e de seu país uma ruína.


Serviço

O "Dicionário do diabo" pode ser encontrado na íntegra, em espanhol, em: Ciudad Seva

domingo, 27 de maio de 2007

Da música e músicos


Pop-rock

O mês de junho promete ser de festa para os amantes do pop e rock and roll, com a volta do The Police aos palcos. Já está tudo certo para que Sting, Stewart Copeland e Andy Summers se apresentem na Inglaterra, com sucessos como 'Message in a Bottle', 'Every Breath you Take' e 'Sincronicity II'.

No final dos anos 70 e primeira metade dos 80, o grupo revolucionou o pop-rock, recriando o reggae (também chamado de ‘reggae branco’), influenciando bandas e músicas por todos o mundo –caso do Brasil, onde o Paralamas do Sucesso surgiu sob sua influência. Durante as décadas seguintes, os músicos do The Police investiram em carreiras solo –com Sting e Andy Summers voltando-se ao jazz- e a causas ambientais e políticas.

Outra banda que tem data marcada para reunir-se outra vez é o Gênesis, embora sem seu líder mais carismático, Peter Gabriel. O Gênesis começará sua turnê pela Europa a partir de 11 de junho, com a presença de Phil Colllins, Peter Rutherford e Tony Banks.

Clássico inventivo

No Brasil, o grupo mineiro Uakti, que já está na ‘estrada’ desde 1981, continua fazendo sucesso nos meios da música clássica e experimental. Para executar composições de Mozart, Villa-Lobos, Mussorgsky e Ravel, dentre outros, o Uakti cria seus próprios instrumentos, realizando verdadeiras performances durante suas apresentações. Para quem gosta de música clássica-erudita, vale conferir o CD “Clássicos”. Para quem prefere temas brasileiros, recomenda-se “Mulungo do Cerrado”.

Jazz-flamenco

O maior guitarrista vivo do planeta completa 60 anos em dezembro de 2007: Paco de Lucia (nome artístico de Francisco Sánchez Gómez) entra na terceira idade com domínio pleno na arte da guitarra (violão, no Brasil)
. A ele é atribuída a fusão do flamenco com o jazz, bem como o uso de ritmos caribenhos -caso da rumba. Dentre suas composições mais famosas encontra-se “Entre dos Aguas”. Imperdível também é o disco “Friday Night in San Francisco”, um verdadeiro êxtase musical que reuniu Paco de Lucia, Al di Meola e John Maclaughlin na década de 80. O CD pode ser encontrado sem dificuldades no Brasil, e é possivelmente a melhor apresentação já feita ao vivo de três virtuoses do jazz-fusion.

Websites

Uakti -
www.uakti.com.br/
Paco de Lucia -
www.pacodelucia.org/

Videos relacionados

The Police
Synchronicity II
Every Breath you Take

Uakti
Bachianas No. 5

Paco de Lucia
Entre dos Aguas