quinta-feira, 12 de julho de 2007

O Oriente Médio e as não-armas para a Paz


No dia 12 de julho de 2006, há exatos 12 meses, iniciava-se uma nova guerra no Oriente Médio. Após um ataque na fronteira entre Israel e Líbano, provocado pela milícia libanesa xiita Hezbollah, Israel e o grupo islâmico começariam um conflito de mais de um mês, que terminaria com a morte de cerca de 1,2 mil libaneses, 200 israelenses e prejuízos da ordem de pelo menos US$ 2 bilhões para o Líbano. Ainda hoje, o Líbano se ressente dos efeitos da guerra e Israel vive períodos de instabilidade política, pela perda de credibilidade de seu primeiro-ministro, Ehud Olmert.

Um ano depois, pergunta-se: Quem ganhou a guerra? Os pró-israelenses dizem que Israel, já que o objetivo de afastar os milicianos xiitas de suas fronteiras foi alcançado. Os pró-Hezbollah afirmam que foi o grupo guerrilheiro, pois seu poderio continua intacto e cresceu no cenário político libanês, pela omissão do governo constituído daquele país durante a guerra e da adesão de setores antes avessos aos islâmicos.

Se há dúvidas sobre quem venceu a guerra, existe a certeza de que, outra vez, quem perdeu foi a região. Como também o mundo, envenenado por notícias diárias que espalham por toda a parte o ódio, inoculando no interior das pessoas o vírus do anti-semitismo, do terrorismo islâmico e do sionismo de tendência fascista.

Para o Oriente Médio e todos seus países, só há uma saída: a paz. Não a paz engendrada pelas grandes potências, que, como lobos em pele de cordeiro, articulam negociações que humilharão um dos lados. Não a paz dos grupos terroristas, que desejam a eliminação do Estado de Israel e a estigmatização de um povo que tantas contribuições deu e dá a toda a humanidade. Não a paz que segregue e humilhe os palestinos, confine-os em seu território dividido e ocupado, ou que entregue os povos árabes e islâmicos nas mãos de elites corruptas, que utilizam a religião como instrumento de manipulação das consciências.

Este tipo de paz resultará, no médio e longo prazos, em novos conflitos. Só há uma paz possível: a que leve ao desenvolvimento de uma cultura de solidariedade e convivência entre os povos no Oriente Médio.

Exército de Gandhis

A única solução para o Oriente Médio, ao invés do terrorismo e da luta armada, é a formação de um exército de Gandhis, com lideranças dispostas a atuar pela paz, preparadas e instruídas dentro de um espírito de não-violência. É mister que sejam líderes surdos às insinuações e provocações daqueles que propõem acordos incendiários, a retaliação, que jamais ficam satisfeitos com nenhuma solução e sempre querem mais. É imperativo que sejam líderes limpos, que amem mais à honra e ao semelhante, do que o dinheiro, os prazeres, as pompas e os encontros com chefes de Estado. É fundamental que sejam líderes que olhem para seus oponentes não como inimigos, mas como seres humanos; que entendam que palestinos e islâmicos não são animais, e que os israelenses não são monstros.

O surgimento de líderes com este espírito mudaria a correlação de forças na região, pela provável adesão de suas populações, fartas de lutas, guerras e ódio. Em sua essência, o islamismo é uma religião de paz (a etimologia da própria palavra significa 'Paz'); em sua essência, os israelenses são um povo de paz, culto e civilizado. Ambos, portanto, são povos abertos e pré-dispostos a reconhecer o outro e suas necessidades.

A ação da não-violência não representa passividade ou aceitação do erro alheio. Não significa, jamais, covardia, subserviência ao mais forte ou ir para o matadouro como um cordeiro trêmulo e sem reação. Gandhi ensinava: "A intenção daquele que pratica a não-violência nunca é embaraçar o adversário injusto. Ele não deseja suscitar-lhe o medo, mas alcançar-lhe o coração. A meta do não-violento é converter o mau, não o constranger". O Mahatma também dizia: "O princípio da não-violência em que acredito é uma força extremamente ativa. Não há nele qualquer lugar para a covardia nem para a fraqueza".

Um único homem, Mahatma Gandhi, foi capaz de conduzir milhões de seres humanos a superar o colonialismo britânico e alcançar a independência da Índia. Contudo, a semente da paz havia sido depositada dentro de Gandhi meio século antes, pela leitura das obras do pacifista norte-americano Henry David Thoreau, que pregava a desobediência civil contra as arbitrariedades do Estado em seu país. Posteriormente, o exemplo de Gandhi deu origem a outros grandes líderes, como Martin Luther King, que encabeçou a luta pelos direitos dos negros, nos EUA, e Nelson Mandela, na África do Sul.

Tanto Gandhi como Luther King foram mortos por extremistas inimigos da paz duradoura. Mas isso é o menos importante. O próprio sábio indiano conhecia os riscos a que estava exposto. Ele dizia: "Se encorajo de bom grado milhares de militantes a sacrificar a própria vida na luta não-violenta, isso não significa que eu não dê nenhum valor à vida. Sei apenas que, a longo prazo, daí resultará o menor número possível de vidas perdidas. Além do mais, é uma luta que enobrece aqueles que nela perdem a vida, e cujo sacrifício enriquece moralmente o mundo."

Frases de Gandhi

O princípio de não-violência em que acredito é uma força extremamente ativa. Não há nele qualquer lugar para a covardia nem para a fraqueza.

Não se impaciente com o fato de o método da não-violência parecer um processo extremamente lento. É, na verdade, o mais rápido por ser o mais seguro.

A força não diz respeito a uma capacidade física. Ela se baseia numa vontade indomável. É assim que um pequeno grupo de espíritos determinados, tomados por uma fé infinita em sua missão, pode mudar o curso da história.

Em nosso estado atual, meio homens, meio animais, nossa arrogante ignorância nos leva a pensar que concretizamos mesmo o projeto de nossa espécie pagando ofensa com ofensa, acumulando, portanto, o que é preciso de cólera para isso. Desejamos acreditar que as represálias são a lei de nossa espécie, quando todas as Escrituras indicam que as represálias nunca são obrigatórias, mas sim, quando muito, permitidas dentro de certas condições. A contenção, sim, é que é obrigatória.

Quando acatamos a não-violência, não devemos manifestar qualquer sentimento de cólera em relação á pessoa que nos causou algum mal. Não devemos desejar a ela nenhum mal, nem injuriá-la, menos ainda ataca-la fisicamente: devemos antes desejar-lhe uma sorte feliz e, em todo caso, suportar todo o malfeito que ela ainda pode nos causar. A não-violência implica uma total inocência.

Os maiores homens sempre foram solitários. Os grandes profetas, como Zoroastro, Buda, Jesus, Maomé, foram todos solitários. Mas, graças à fé em si mesmos e em seu Deus, graças à certeza de terem Deus ao lado deles, eles nunca se sentiram sozinhos.

Não pretendo ser um visionário. Vejo-me, antes de tudo, como um idealista prático.

Leituras recomendadas

"Princípios de Vida", Mahatma Gandhi, editora Nova Era

"Gandhi", de Louis Fischer"

A Desobediência Civil" e "Walden", de Henry David Thoreau

"Onde existe luz", Paramahansa Yogananda

"O Jardim dos Virtuosos - Volumes 1 e 2", coletâneas de frases e passagens da vida (hadiths) do profeta Muhammad, Sociedade Beneficente Muçulmana de São Paulo

"Tu e Eu", Martin Buber

"Entre a água e a selva", Albert Schweitzer

Filmes

"Gandhi", de Richard Attenborough (DVD disponível para compra e locação)

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Clique sobre o título para assistir. Nos dois primeiros, pode-se ouvir a voz do grande mestre.

Gandhi

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