É costume acreditar que a lucidez e o conhecimento que caracterizam grande parte dos intelectuais sejam sinônimos de adesão automática a causas justas e ao bem, certo? Errado. Se na 2ª Grande Guerra a maior parte dos artistas enfileirou-se na luta contra o nazismo e o fascismo, é igualmente verdade que no campo oposto também houve grandes personalidades no mundo da cultura, como os escritores franceses Drieu La Rochelle e Louis Ferdinand-Celine; o poeta ítalo-americano Ezra Pound; o franquista –e Nobel de Literatura nos anos 90- Camilo José Cela e a cineasta maior da Alemanha nazista, Leni Riefenstahl.
Autora das obras máximas do cinema nazista, o “Triunfo da Vontade” e “Olympia”, Riefenstahl, que morreu em 2003, aos 101 anos, é tema do livro "Leni: The Life and Work of Leni Riefenstahl" (Leni: A vida e a obra de Leni Riefenstahl), de Steven Bach (Alfred A. Knopf: 386 pp), lançado recentemente nos EUA. A obra é uma biografia crítica da cineasta, que ajudou a criar o mito da simetria e ‘superioridade’ ariana, sendo admirada dentro e fora da Alemanha, mesmo no pós-guerra. Embora houvesse trabalhado para os nazistas, Riefenstahl escapou de Nuremberg e de outros tribunais de acusação, segundo o autor, por jamais ter se afiliado ao Partido Nazista e também por ter usado seus atributos de mulher belíssima para obter favores que garantiram sua liberdade.
Quando Leni Riefenstahl contava com mais de 80 anos, a escritora norte-americana Susan Sontag apontou, num artigo intitulado “Fascismo Fascinante”, o verdadeiro objeto do culto da cineasta: corpos perfeitos, como que esculpidos, que estivessem acima de eventuais ‘imperfeições’ da Natureza. Sontag desmascarava o esteticismo de Riefenstahl e deixava à mostra a filosofia nazista oculta atrás da arrogante busca da perfeição, o que pode ser apreciado num trecho de "Triunfo da Vontade": milhares de jovens geometricamente dispostos, atentos ao discurso de seus líderes. Entra Adolf Hitler, orgulhoso pela multidão de olhares sobre si. Riefenstahl exibe os rostos dos adolescentes tantalizados pela fala do ditador, numa verdadeira aula prática de como a inteligência pode ficar a serviço do mal e de como o mal também pode tornar-se ‘belo e atraente’.
O grande cineasta e humanista Charles Chaplin, criador de “Carlitos” –personagem que em tudo representava o oposto do ideal perseguido por Riefenstahl-, conhecia o trabalho da talentosa alemã desde “Blue Light” (de 1932). Ele teria estudado os filmes da cineasta antes de dar vida às personagens Hinkel e ao barbeiro judeu, sósia com quem o déspota inspirado em Hitler é confundido em "O Grande Ditador". A antológica cena do discurso final (com tradução na íntegra em português, em texto) pode ser assistida no vídeo em anexo.
Autora das obras máximas do cinema nazista, o “Triunfo da Vontade” e “Olympia”, Riefenstahl, que morreu em 2003, aos 101 anos, é tema do livro "Leni: The Life and Work of Leni Riefenstahl" (Leni: A vida e a obra de Leni Riefenstahl), de Steven Bach (Alfred A. Knopf: 386 pp), lançado recentemente nos EUA. A obra é uma biografia crítica da cineasta, que ajudou a criar o mito da simetria e ‘superioridade’ ariana, sendo admirada dentro e fora da Alemanha, mesmo no pós-guerra. Embora houvesse trabalhado para os nazistas, Riefenstahl escapou de Nuremberg e de outros tribunais de acusação, segundo o autor, por jamais ter se afiliado ao Partido Nazista e também por ter usado seus atributos de mulher belíssima para obter favores que garantiram sua liberdade.
Quando Leni Riefenstahl contava com mais de 80 anos, a escritora norte-americana Susan Sontag apontou, num artigo intitulado “Fascismo Fascinante”, o verdadeiro objeto do culto da cineasta: corpos perfeitos, como que esculpidos, que estivessem acima de eventuais ‘imperfeições’ da Natureza. Sontag desmascarava o esteticismo de Riefenstahl e deixava à mostra a filosofia nazista oculta atrás da arrogante busca da perfeição, o que pode ser apreciado num trecho de "Triunfo da Vontade": milhares de jovens geometricamente dispostos, atentos ao discurso de seus líderes. Entra Adolf Hitler, orgulhoso pela multidão de olhares sobre si. Riefenstahl exibe os rostos dos adolescentes tantalizados pela fala do ditador, numa verdadeira aula prática de como a inteligência pode ficar a serviço do mal e de como o mal também pode tornar-se ‘belo e atraente’.
O grande cineasta e humanista Charles Chaplin, criador de “Carlitos” –personagem que em tudo representava o oposto do ideal perseguido por Riefenstahl-, conhecia o trabalho da talentosa alemã desde “Blue Light” (de 1932). Ele teria estudado os filmes da cineasta antes de dar vida às personagens Hinkel e ao barbeiro judeu, sósia com quem o déspota inspirado em Hitler é confundido em "O Grande Ditador". A antológica cena do discurso final (com tradução na íntegra em português, em texto) pode ser assistida no vídeo em anexo.