segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

PAI


Era uma vez um menino criado apenas pela mãe. Tão logo começou a ganhar entendimento das coisas, sua mãe contou-lhe que, pouco antes de nascer, o pai tivera de partir em uma longa viagem, sem prazo para retornar. Mas, apesar da distância, prometera jamais deixar de acompanhar o progresso do filho e sempre encontraria uma forma de saber como ele estava.

Dessa forma, o menino foi educado. Embora não tivesse nenhuma fotografia do pai e a mãe se recusasse a descrevê-lo fisicamente, era como se estivesse presente em tudo o que se dizia que a criança deveria ou não fazer. Quando o menino se empenhava nos estudos, ou quando era solícito para com outras pessoas, a mãe comentava: “Seu pai ficará feliz em saber do seu comportamento”. Por outro lado, quando o pequeno era traquinas ou dava mostras de superioridade perante os outros, novamente a sombra do pai era projetada sobre ele: “Vou contar o que você andou aprontando para o seu pai. Tenho certeza de que ele não vai gostar nada de saber o que você anda fazendo”.

E assim foi. No geral, o menino, que já ultrapassara a adolescência e se convertera em um jovem homem, fora obediente à maior parte das instruções transmitidas pela mãe, que falecera no início da juventude do rapaz. Crescera procurando ser digno, verdadeiro e bom, em resumo, seguira os conselhos que o pai lhe deixara.

No entanto, com a maturidade, o agora homem deixou de se satisfazer com a história do pai que, de algum local distante, vigiava seus passos. Quis saber mais. Aonde estaria? Que trabalho poderia ser tão importante que, em cerca de vinte anos, não lhe permitira fazer sequer uma visita ao filho? É certo que nada jamais faltara a ele. Fora educado da melhor maneira, com os melhores instrutores, e se saíra bem. Contudo, hoje ele compreendia que nada daquilo era realmente valioso se não conhecesse o responsável direto por sua vida e sucesso, que lhe ensinara a ser senhor de si mesmo.

Sem ter a quem recorrer, pois não tinha quaisquer parentes onde então vivia, pensou em usar uma foto de si mesmo como pista. Sim, certamente devia ter herdado os traços paternos. Achava-se muito diferente da mãe, portanto, deveria assemelhar-se ao pai.

Por onde começar?, perguntou-se. Para onde ir? Ao mesmo tempo, já era um homem de responsabilidades, tinha os negócios que a mãe lhe legara para cuidar, além de estar apaixonado por uma bela moça com quem prometera se casar. Qualquer tipo de busca envolveria o abandono de uma situação estável na qual, paradoxalmente, o próprio pai o colocara. Achou curioso que, no meio social em que vivia, todos o elogiavam por sua família, pelo pai dedicado que suprira todas suas necessidades materiais. Ele, contudo, estava só no mundo. E percebia isso cada vez mais claramente.

Naquela noite teve um sonho. Viu-se saltando do interior de um navio luxuoso e adornado, repleto de gente, para dentro do mar silencioso, sem uma bóia ou pedaço de material flutuante em que se agarrar. Apesar de sentir medo durante o salto, no momento do choque do corpo com a água, uma felicidade única o invadiu, compensando os riscos do que viesse depois.

Na manhã seguinte, assim como o pai fizera consigo, partiu, deixando instruções a respeito da condução dos negócios e uma carta emocionada à noiva, garantindo-lhe fidelidade e pedindo perdão pela atitude inevitável.

Sem rumo, levando consigo apenas uma foto de si mesmo, a roupa do corpo e algum dinheiro, tomou um trem desconhecendo para onde deveria ir. Olhando para fora do trem em movimento, a paisagem não representava mais do que um aglomerado de imagens que se sucediam, árvores, postes, casas, pessoas, animais, e depois a escuridão que a tudo afogava, alternada com as poucas luzes que insistiam em não apagar.

Adormeceu. Ao amanhecer, chegou a uma cidade um pouco menor que a sua. Ele sabia que não encontraria seu pai por lá –embora, quem sabe, ele pudesse estar ali, por que não?. Resolveu deter-se naquele lugar. Confuso mas determinado, sentou-se em um banco de praça para decidir o que fazer. Ficaria ali por algum tempo, até ter uma idéia mais clara para onde seguir. Ao menos, pensava, ninguém mais diria que seu pai o provia ou zelava por ele onde quer que estivesse. Ali era um estranho. Pela primeira vez, sentiria a ausência completa do pai.

Passaram-se meses, o jovem tornou-se empregado em um escritório local e, por seu empenho, dedicação e honestidade, rapidamente granjeou a admiração alheia, ascendendo a um novo cargo. Outra vez, encontrava-se em situação estável, havendo várias mulheres que se insinuavam para ele. Certo dia em que o fogo da juventude queimou-lhe do ventre à garganta por uma bela moça que o fitava com lascívia, um lampejo atravessou sua mente: Em que ele diferia do jovem que saíra de sua cidade natal? Voltara à situação anterior, só que sem o pai. Lembrou-se que o motivo que o levara até ali não era a admiração das outras pessoas ou o desejo das mulheres, mas encontrar o próprio pai. Mas encontrá-lo onde? Quem garante que por todas as cidades por onde eu passe não acontecerá a mesma coisa? Não estarei ficando louco? Por que procurar por meu pai, no final das contas? Por que não desfrutar da vida como ela é, constituir família e esquecer definitivamente alguém que jamais me procurou enquanto estive à sua disposição, dedicando-me a agrada-lo?

No entanto, a saudade e o desejo de encontrar o pai sobrepujavam qualquer outro sentimento dentro de si. Não tinha qualquer outra ambição. Não aprendera o valor das coisas materiais além de seu significado comum; não sentia afã, apego por nada. A vida, tal como a via vivida pelos outros, não lhe interessava. As pequenas batalhas do dia-a-dia, a luta por dinheiro, por reconhecimento, por sexo, por prazer, tudo lhe parecia distante como se estivesse no alto de uma montanha e enxergasse, lá embaixo, as pessoas pequenas e certas de que suas vidas e seus problemas eram os assuntos mais importantes do universo, sem a noção da grandeza que as rodeava. No entanto, acima da montanha havia o céu, cortado por nuvens douradas e avermelhadas, imerso no silêncio.

Outra vez decidira partir. Dessa vez, sem despedir-se ou deixar correspondência. Iria para onde, meu Deus?, pensou. Para onde pudesse refletir sobre o melhor lugar para procurar o pai. Perambulou por cidades e vilas minúsculas junto ao campo. Bem apessoado e vestido, educado e cortês, não demorava a conseguir trabalho, embora, mais do que na ocasião anterior, despertasse a curiosidade da gente do campo. Todos queriam saber quem era, o que fazia por ali, por que –não o diziam diretamente, mas transpareciam a dúvida- resolvera misturar-se com aquelas pessoas simples, em locais pobres e sem perspectivas. O que esperava achar por ali? Seria um enganador, interessado em lesar pessoas humildes e sem cultura?

Da primeira vez, ninguém perguntou quem ele era. Agora, acontecia o contrário. E como não obtivessem resposta alguma que os satisfizesse, começaram a criar lendas e histórias a seu respeito. Percebeu, porém, que pobres e ricos, campesinos ou citadinos, todos se encontravam num ponto: não conseguiam entender, nem acreditar, que ele pudesse perder seu tempo procurando o pai pelo mundo. Muitos invejavam seu porte, educação e facilidade para obter favores e conquistar a admiração alheia. Outros gostavam sinceramente dele, por sua nobreza e delicadeza no agir e falar. Uma minoria o temia –quem seria ele, o que quer de nós?, pensavam. Estavam todos, sem exceção, engalfinhados na luta pela vida, que, na maior parte das vezes, não acontecia com o corpo, no trabalho, mas dentro de si mesmos, através das preocupações, expectativas e ilusões. Não tinham espaço para mais nada a não ser pensar em ganhar, acumular, enriquecer, proteger-se, destacar-se, dormir e voltar a fazer a mesma coisa no dia seguinte.

O pai voltou-lhe à mente e sua suposta imagem fincou-se em seu coração, como um destino. Era sua razão de viver. O que fora feito dele? E se não encontrasse o pai, o que aconteceria? Não conseguia viver naquele mundo que parecia um turbilhão, mas, ao mesmo tempo, não achara o pai. Estaria condenado a perambular? Nada o prendia àquela cidade, àquele povo. Nada o prendia a lugar algum. Novamente, resolvera partir. Tomara, porém, uma nova decisão. Não sairia dali enquanto não recebesse um sinal da localização de seu pai ou de que fim levara.

Ocorreu-lhe então que deveria tentar lembrar-se do pai o máximo possível, tê-lo em mente a cada instante. Recordou-se que, em seus primeiros anos, era a mãe quem sempre lhe falava do pai, instando-o a ser o melhor possível para alegrar aquele que o amava e zelava pelo seu bem-estar. Agora seria diferente. Ele se lembraria do pai espontaneamente. Pai, quero saber onde você está, tenho certeza que não está longe. Amo-o, será que não sente isso? Por favor, não quero morrer, mas também não conseguirei viver muito mais tempo dessa forma. Ajude-me a chegar até você, pedia em seu interior.

Na mesma noite, teve um sonho. Viu uma porta se abrindo e uma mão, semioculta sob a manga de um manto, se esgueirava em sua direção, chamando-o para entrar. Ele o fazia e, no instante seguinte, encontrava-se diante de alguém cujo rosto não podia ser visto. Ao despertar, identificou o aposento do sonho com seu antigo quarto.

Sem saber exatamente porquê, resolveu voltar para casa. Alguns anos já se haviam passado, usava barba, sua pele ficara tostada pela vida ao ar livre. Não seria reconhecido facilmente. Nem o queria, para dizer a verdade. Como estariam a ex-noiva, as pessoas que incumbira de seus negócios? Eram apenas pensamentos fortuitos. Não voltava pela noiva ou pelos negócios, não pretendia cobrar ou exigir nada. Seria insensível por pensar assim?

Pai, o que você me fez fazer? Terei abandonado os que me amavam apenas para encontrá-lo? No que você é melhor do que eles? Terei seu amor quando o encontrar? Quem garante que não sou um órfão e que minha mãe, por piedade, não inventou a história de sua ausência?, pensava. Metade do seu ser, contudo, opinava de maneira diferente. Não havia outra alternativa. Estava condenado à morte em vida, à hipocrisia de uma existência sem sentido, feita de anseios e conversações inúteis, de prazer insaciável e da luta contra a dor e a miséria que caracterizam o espírito humano. De repente, percebera que, em todos aqueles anos, jamais temera qualquer situação de penúria ou perda material. Seu único medo era morrer sem encontrar o pai, sem descobri-lo.

Ao voltar à cidade natal, reconheceu cada lugar, com ou sem modificações. Sabia distinguir as coisas novas que haviam sido acrescentadas desde sua partida. Foi para sua velha casa, vestido como um camponês, a pele tostada e a barba por fazer, com uma sacola de algodão cru a tira-colo. Não tinha mais o porte de outrora, nem preocupava-se com isso. Ao chegar à casa onde fora criado, tocou a campainha. Ninguém veio. Tocou outra vez. Lentamente, passos aproximaram-se da antiga porta de madeira. Apareceu um homem desconhecido, pouco mais jovem do que ele, mas bem vestido.

Quem vive nesta casa, perguntou. Só um antigo membro da família do sr. e sra. tal, respondeu o criado. Por acaso, ouviu falar de um antigo morador desta residência, que se chamava tal? Sim, ouvi. Desapareceu há alguns anos, após haver entregue todos seus negócios e ter deixado uma carta de despedida à noiva, respondeu novamente o homem. E quem vive aqui, atualmente?, perguntou o jovem com aspecto campônio. O sr. tal, pai do jovem que, tempos atrás, abandonou esta casa.

Quase desmaiou. Empalideceu e sentiu o suor escorrer pelo corpo. Como podia ser? Ele, que perambulara anos a fio por lugares onde acreditava que pudesse encontrar algum sinal do pai, o acharia na própria casa? Preciso entrar, disse ao criado. Mas este, recomposto das inúmeras perguntas de que fora alvo, disse-lhe Não. Deixe-me passar, por favor. Este homem é meu pai. Eu sou aquele que, há muitos anos, partiu em busca daquele que hoje mora nesta casa. Sinto muito, não acredito, disse o empregado. Como alguém tão rude como você pode ser filho do sr. tal? Você não corresponde à descrição dele, disse. Por sorte, guardava junto a si a própria fotografia. Veja. O homem olhou a imagem, quase encostando-a na ponta do nariz, e a devolveu. Espere um momento, falou, fechando a porta atrás de si.

Passados cerca de quinze minutos, retornou. Pode entrar, disse o homem, com olhar desconfiado. Atravessou o umbral e penetrou na casa, a mesma que deixara numa madrugada cuja data não podia precisar. Nada mudara. Os móveis pareciam estar pregados aos seus antigos lugares, o corrimão da escada mantinha-se lustroso, os tapetes e quadros permaneciam incólumes. Parecia-lhe que nunca saíra daquela casa, que tudo não passava de um sonho. Talvez fosse, talvez nunca tivesse partido, talvez estivesse apenas dormindo. Tocou o próprio rosto e sentiu a barba que ocultava a face outrora de traços suaves; olhou para as próprias roupas e compreendeu que sim, que estava de volta ao lar depois de muito tempo. Como se despertasse, dirigiu-se com passos firmes ao seu antigo quarto, sua única dormida enquanto vivera naquela casa. Pela porta entreaberta, uma mão firme, sobre a qual incidia uma luz, acenava para que entrasse e finalmente encontrasse a razão de sua vida.

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

...sem olhar a quem


Passava da meia-noite. Eu me encontrava em um restaurante italiano na região central de São Paulo, de pé no balcão de atendimento, à espera da pizza que havia encomendado. De repente, um homem se aproxima da entrada do estabelecimento. Cambaleante, de cabelos grisalhos, sujo e com as roupas amarrotadas, ele pára na porta, me olha e diz:

“Doutor, o senhor pode me arrumar um real? É o que falta para eu comprar minha pinga...”

Olho para ele fixamente, dou uma gargalhada, ponho a mão no bolso, tiro uma moeda de R$ 1,00 e a lanço em sua direção, como se jogasse cara ou coroa. A moeda rodopia no ar, até cair em sua mão.

Frases

De “O Profeta”, de Gibran Khalil Gibran

Muitas vezes dizes: “Eu daria, mas somente a quem merece.”
As árvores de vosso pomar não falam assim, nem o rebanho em vosso pasto.
Dão para viver, pois reter é perecer.

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Então, um homem rico disse: “Fala-nos da dádiva.”
E ele respondeu:
Dais muito pouco quando dais do que tendes.
É quando derdes de vós mesmos que realmente dareis.
Porque, o que são vossas posses senão coisas que guardais e vigiais pelo medo que tendes que delas necessiteis amanhã?
E amanhã, o que trará o amanhã ao cão ultraprudente que enterra seus ossos na areia sem marcas, enquanto segue os peregrinos à cidade santa?

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Das “Oito Aprendizagens”, de Hatim al-Asamm

(...) Vi que todos os seres humanos corriam atrás dos bens do mundo, se apropriavam e guardavam com avidez. Meditei então sobre a palavra de Deus: “Vossos bens são perecíveis, os bens de Deus são eternos (Corão 16; 98)”. Daquilo que eu possuía, então, me desprendi por amor a Deus e o distribuí aos pobres para que fosse para mim um tesouro ante os olhos de Deus. (...)

(...) Vi que todos os seres humanos confiavam nas criaturas: no dinheiro, nos bens e na propriedade, no ofício e na indústria, ou finalmente em outro ser humano. Meditei então sobre a palavra de Deus: “Deus basta para aquele que confia n’Ele. Ele realiza sempre seus desígnios. E os realiza ao seu tempo. (Corão 65; 3)”. Tenho, pois, plena confiança em Deus, que Ele me basta e que é O melhor dos protetores. (...)

Leituras recomendadas

“O Profeta”, Gibran Khalil Gibran
“O Sermão da Montanha”, Novo Testamento, Bíblia Sagrada
Todos os livros de Albert Schweitzer

Visitas

Brasil – Igreja e túmulo de Nhá Chica, na cidade de Baependi (MG)
Turquia – Túmulo de Jalalludin Rumi, poeta e santo islâmico, em Konya

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

A vida secreta nos sonhos

Cerca de 1/3 de nossa vida é passada em estado de inconsciência, melhor dito, de sono. Apesar disso, esse importante período é praticamente ignorado pela ciência moderna como representativo da atividade humana. Considera-se que, enquanto dorme, a pessoa não faz nada de útil. O sono é apenas o momento em que o corpo repousa para recuperar energias. Contudo, este ‘não-lugar’ onde o homem permanece oito horas por dia é palco de uma atividade intensa: o sonho.

Na cultura ocidental moderna, foi o pai da psicanálise, Sigmund Freud, quem iniciou o estudo dos sonhos, vinculando-os a complexos, medos e principalmente à sexualidade. Já seu discípulo e quase antagonista, Carl Gustav Jung, percebia os sonhos como um mundo mítico, mitológico e arquetípico, que poderia vir à tona trazendo conhecimentos ancestrais, anteriores à própria existência do sonhador. A esse fenômeno o psicanalista suíço dava o nome de ‘inconsciente coletivo’.

Na literatura e nas artes, o sonho ganhou destaque com o surrealismo, movimento deflagrado pelo poeta francês André Breton, em 1924. Até então, representações de sonhos e pesadelos podiam ser encontrados nas pinturas de Peter Brueghel, Hyeronimus Bosch e Goya ou em passagens eventuais da literatura. Com o surrealismo, porém, o sonho passa da condição de elemento casual na arte para tornar-se um método para a construção da própria obra.

Com base nas descobertas psicanalíticas, o surrealismo introduz o conceito de "automatismo psíquico" (fluxo ininterrupto da linguagem) para libertar o conteúdo onírico da alma, fundindo real e imaginário, para que o artista se expresse sem travas ou restrições, com seus claros e escuros. Os sonhos se tornam matéria-prima para a criação artística.

A partir de 1926, o surrealismo invade a arte. O cinema (com “Um cão andaluz”, de Luis Buñuel e Salvador Dali), a literatura, o teatro (“Assim que Passem Cinco Anos”, de Garcia Lorca), a poesia (Lorca, Aleixandre, Alberti, Octavio Paz, René Char, Breton, Neruda, Dylan Thomas, Murilo Mendes), a pintura (com Dali, Max Ernst, Magritte, Miró, Picasso, Wilfredo Lam, Ismael Nery), a escultura, mesmo a comédia de televisão passam a receber influência –ainda que indireta e diluída- da linguagem onírica. Hoje, qualquer clipe de música traz imagens de cunho surrealista. A própria palavra tornou-se sinônimo de uma situação impossível, que ocorre abruptamente no cotidiano.

Um dos exemplos pitorescos dessa visão está numa anedota sobre o poeta surrealista francês Saint Paul Roux, que, ao deitar-se para dormir, pendurava do lado de fora da porta um cartaz onde estava escrito: “Poeta trabalhando”.

Os sonhos e as religiões

Se a arte só oficializou o sonho como protagonista da linguagem a partir do surrealismo, o mesmo não se pode dizer das religiões, onde sempre teve destaque. Para as religiões, o sonho representa a continuidade da vida do eu num universo sem matéria (o sono), para o qual se vai e vem diariamente.

Na interpretação psicanalítica os sonhos são o resultado de desejos e pulsões inconscientes. Mas, na visão espiritualista, o sonho representa a comunicação do mundo sutil com o homem. É através dele que se recebem presságios (como entre os gregos politeístas), profecias (como com o monoteísta José, no Egito, com a interpretação dos sonhos do faraó), revelações e intuições (como entre os índios hopi, animistas).

O sonho é a consciência desperta do eu dentro do mundo do sono (que os antigos poetas chamavam de “pequena morte”). Assim como no estado de vigília pode-se levar uma vida fragmentada ou mais consciente, também durante os sonhos pode-se ter mais ou menos clareza. Há diversos tipos de sonhos, desde aqueles que parecem não ter sentido algum para a pessoa, até aqueles que são nítidos e que trazem, após o despertar, uma mensagem específica ou a sensação de experiência vivida.

Os sonhos e seu conteúdo variam com a qualidade da vida interior que o indivíduo (o “sonhador”) leva em seu dia a dia. Pessoas que vivem apenas para seus afazeres e interesses materiais, sem um olhar transcendente, em geral têm sonhos dispersos, desconexos, sem relação aparente com nada. Estes quase sempre são esquecidos, tão logo se desperte. Às vezes, sequer há a lembrança de se haver sonhado.

Há sonhos pesados, terríveis –chamados pesadelos- que podem tanto ser o efeito do desgaste corporal e psíquico sobre o eu, como podem simbolizar medos internos e ocultos. Mas podem, também, ser o meio pelo qual o eu profundo procura comunicar algo de relevante à pessoa, na forma de imagens e sensações que causam transtorno.

Porém, para quem reconhece interiormente a existência de uma realidade espiritual, e que pauta sua vida não apenas em satisfazer suas necessidades materiais, mas em servir ao semelhante, com plena consciência de que a morte pode chegar a qualquer momento, o mundo dos sonhos não é mais um mundo sem sentido ou com sentido oculto. Ele se torna uma porta para um plano maior, onde o eu é ensinado e preparado, recebendo orientações de cunho moral, material, psicológico e espiritual.

O grande mestre e sheikh sufi (muçulmano) Muzaffer Ozaki, da ordem Halveti Jerrahi, dizia que (...) “ao dormir, a alma abandona o corpo, mas sem perder sua conexão com ele, como a luz que sai de uma lanterna. Essa luz se estende até a tela divina, onde ficam registradas as anotações que lhe dizem respeito. Ao despertar, a luz da alma volta ao corpo, como quando se desliga uma lanterna. Por meio da extensão da alma, o sonhador pode perceber um nível de conhecimento que se encontra além de seu domínio, no âmbito do divino.”

“(...) Os símbolos e imagens dos sonhos são como hieróglifos que podem ser lidos por pessoas experientes. Mas estes símbolos mudam de situação para situação, de pessoa para pessoa, de alma para alma. (...)

Nunca se deveria contar os sonhos a alguém que tem o hábito de falar mal dos outros. Eles só devem ser contados para aquelas pessoas cujas bocas estão limpas.”

Uma narrativa do sheikh Muzzafer Ozak

“Um dervixe que vivia no campo, longe da cidade onde seu mestre morava, teve um sonho. Sentia que era um sonho importante e que devia contá-lo a seu mestre imediatamente. Ele sonhara que seu corpo inchava como se fosse uma mulher grávida. Então, saía uma serpente de sua barriga e seu corpo voltava ao tamanho normal.

Como estava muito ocupado para visitar seu mestre, o dervixe chamou um de seus empregados de confiança. Contou-lhe o sonho e mandou-o para a cidade, para que procurasse e contasse ao seu mestre. O criado foi orientado para que não contasse o sonho a mais ninguém, e que até mesmo evitasse pensar nele. O dervixe sabia que era muito importante revelar seus sonhos apenas àquela pessoa que pudesse interpretá-lo.

O empregado partiu imediatamente à cidade. Pelo caminho, encontrou um conhecido que tinha fama de linguarudo. Este homem lhe perguntou o que estava fazendo ali e o criado respondeu que ia até a cidade. “O que você vai fazer por lá?”, perguntou o linguarudo.

O empregado respondeu: “Tenho que levar uma mensagem da parte de meu senhor.”

“Que mensagem?”

“É confidencial.”

O homem continuou pressionando o empregado para que desse mais detalhes até que, finalmente, este contou que estava indo ver o mestre de seu amo, para contar-lhe o sonho que havia tido na noite anterior

O linguarudo começou, então, a perguntar-lhe de que se tratava o sonho. No começo, o empregado se negou a contar, mas finalmente acabou por ceder. “Meu amo sonhou que inchava”.

Sem esperar o fim da narrativa, o linguarudo começou a rir e disse: “Então ele estourou, como um balão furado por uma agulha”. Tão logo satisfez sua curiosidade, foi embora.

O criado apressou-se a chegar á cidade, indo diretamente à casa do mestre. Quando foi recebido, disse: “Meu senhor teve um sonho na noite passada e roga que o senhor o interprete. Ele sonhou que seu corpo inchava...”

“Páre!”, disse de repente o mestre. “O sonho já foi interpretado. Não há mais nada que eu possa fazer. Volte para sua casa e pergunte por seu patrão.”

Quando o empregado voltou para casa, descobriu que seu senhor havia morrido durante sua ausência. Algumas horas depois que o criado havia saído, o corpo do patrão começou a inchar, até que finalmente faleceu.”

Leituras recomendadas

O Amor é o Vinho (em espanhol) Sheikh Muzzafer Ozak Al-Jerrahi

sábado, 20 de outubro de 2007

Poesia do Ser - Uma breve antologia

É comum associar o ato de escrever poemas à capacidade de expressar sentimentos ou ao idealismo -"fulano de tal é um poeta", diz-se daquele que acredita em seus ideais, sem temer o ridículo. Outra abordagem, de cunho acadêmico, vincula a poesia a uma atividade cerebral, racional, que pode ser planejada e executada, assim como um projeto de arquitetura pode vir a tornar-se uma construção.

Entre estas duas visões, ou para além de ambas, há uma outra, que considera a poesia como um momento de revelação. Por este enfoque, a poesia é vista como um dos mais elevados meios de exploração do mundo interno e de autoconhecimento do ser humano. No entanto, difere do processo religioso, em que a iluminação e a ascese surgem por meio da contemplação, da oração ou da meditação, pois na poesia o despertar ocorre através do belo.

Basta ler um trecho da "Ode a uma urna grega", do poeta inglês John Keats (1795-1821), para compreender a irrupção do belo:

"As melodias ouvidas são doces, mas ainda mais
doces são as não ouvidas;
suaves flautas, soai não para os sentidos,
mas para o espírito.
Tocai canções silenciosas
e ainda mais desconhecidas."

No poema de Keats, o belo representa a manifestação do mundo invísivel dentro do mundo sensível. Há uma música mais essencial que habita a própria música e a alma é convidada a ouvi-la. A partir deste ponto ("soai não para os sentidos, mas para o espírito"), o poema passa também a ser elaborado no interior daquele que o lê, abrindo-se duas possibilidades: deter-se no prazer intelectual da leitura, que se encerra com a sugestão destas “canções silenciosas e ainda mais desconhecidas”, ou avançar rumo ao próprio ser, de forma a escutar dentro de si mesmo estas “melodias (...) ainda (...) não ouvidas”.

Como John Keats, há poetas de todas as épocas, línguas e tradições, que suscitam estados de alma e de consciência elevados no leitor, tornando-o cúmplice do processo criativo. Quantos já não tiveram o rumo de suas vidas alterado após a leitura de um verso, um poema, pelo encontro com uma obra inesquecível? Quantos não despertaram ou não sentiram o frenesi que a leitura de um verso pode causar?

Há poetas que são verdadeiros ourives da palavra e do idioma que manejam, capazes de infundir em seus poemas o resultado de suas experiências internas e externas, tornando-as universais e atemporais. A esse tipo de poesia, fundada no íntimo, dá-se o nome de poesia ou poética do ser.

A poesia do ser é a suspension of desbelief (suspensão da descrença e dos preconceitos) de que falava outro grande poeta inglês, Samuel Taylor Coleridge. É a abertura plena do interior ao Todo, permitindo a compreensão em profundidade do amor, morte, solidão, angústia, mar, natureza, alegria, paisagens, silêncio, do encontro consigo mesmo. A poesia do ser não apenas torna visível o invisível, como, dir-se-ia, também prepara os olhos para enxergar o que surge diante de si. Ela elabora mundos dentro ou além do mundo e os povoa.

Raramente a poesia do ser é dramática. Antes, movimenta-se em silêncio, que é também o habitat do espírito reflexivo e de toda revelação. Ela é transcendente e, se o cotidiano lhe serve como matéria-prima, é apenas para ser superado.

Onde a filosofia e a religião falharam em tornar o ser humano mais consciente de seu papel no universo, pode-se dizer que a poesia que nasce do íntimo sempre foi e será bem sucedida.

Da Antologia

A breve antologia poética ora apresentada, com algumas exceções (casos de Miguel Hernandez e Pablo Neruda), contempla autores ainda pouco conhecidos do leitor brasileiro em geral. A ausência de poetas como Rainer Maria Rilke, Jalaludin Rumi e Cecília Meirelles é deliberada nesta primeira seleção de poemas.

Antologia poética

Miguel Hernandez
(Espanha, 1910-1942)

Vivo na sombra, cheio de luz. Existe o dia?
Aqui é minha tumba ou minha abóbada materna?
Sinto este pulsar contra minha pele como uma fria
laje que germinasse quente, rubra e terna.

É possível que eu não tenha nascido ainda,
ou que sempre tenha estado morto. A sombra me governa.
Se isso é viver, então não sei como morrer seria,
nem sei o que persigo nesta busca tão eterna.

Prisioneiro em um traje, sinto que desejo
despir-me, livrar-me daquilo que não sou
eu e que torna turvo e distante o infinito.

Mas a teia negra, distante, vai comigo
sombra a sombra, contra a sombra até que se desfaça
diante da vida nua, crua e crescente deste nada.

Manuel Altolaguirre
(Espanha, 1905-1959)

Para chegar à luz

Dizem que sou um anjo
e, degrau a degrau,
para chegar à luz
tenho que usar as pernas.
Cansado de subir, às vezes rodo
(talvez sejam as pregas de minha túnica),
mas um anjo rodando não é um anjo
se não tem a honra de chegar ao abismo.
E o que encontrei em minha maior queda
era brando, brilhante;
lembro-me de seu perfume,
seu deleite malsão.
Despertei e agora quero
encontrar a escada,
para subir sem asas
pouco a pouco
rumo à minha morte.

Odyseas Elitys (Grécia, 1991-1996)

Ainda é cedo neste mundo, me ouves?, os monstros ainda não foram domados, me ouves?,
meu sangue perdido e desejado, me ouves?, punhal que corre como carneiro pelos céus
e quebra os galhos das estrelas, me ouves?

Sou eu, me ouves?
Te amo, me ouves?
Te tenho, te levo, te visto
com o branco traje nupcial de Ofélia, me ouves?

Onde me deixas, onde vais e quem, me ouves?, te leva pela mão por cima dos dilúvios
enormes lianas e lava de vulcões?

Chegará o dia, me ouves?, em que nos enterrem e milhares de anos depois, me ouves?, nos converterão em rochas brilhantes, me ouves?
Para que sobre elas paire a crueldade, me ouves?, humana, e em cinco mil aninhos nos atirarão, me ouves?, às águas, um a um, me ouves?

Conto meus seixos amargos, me ouves?
O tempo é uma grande igreja, me ouves?, onde às vezes nas imagens, me ouves?, dos santos
surgem lágrimas verdadeiras, me ouves?

E os sinos abrem nos céus, me ouves?, uma passagem profunda que me permite atravessar.
Aguardam os anjos com círios e salmos fúnebres.
Não vou a parte alguma, me ouves?, ou nenhum ou os dois juntos, me ouves?

Esta flor da tormenta e, me ouves, do amor,
de uma vez para sempre a decepamos, me ouves?, e não voltará a florescer, me ouves, em outra terra, em outra estrela, me ouves?

Não existe o solo, não existe sequer o ar, me ouves?, que tocávamos, me ouves?
E nenhum jardineiro foi tão afortunado em outros tempos, depois de tanto inverno e tantos ventos frios, me ouves?, que nasça uma flor, só nós, me ouves?, levantamos toda uma ilha, me ouves?, com grutas e cabos e inacessíveis recantos florescidos
Ouves, ouves?
Quem fala ás águas e quem chora, ouves?
Quem procura o outro, quem grita, ouves?
Sou eu que grito, sou eu que choro, me ouves?Te amo, te amo, me ouves?

Cintio Vitier (Cuba, 1921- )

Não são minhas as palavras nem as coisas.
Elas têm suas festas, seus assuntos
que não me competem,
espero seus sinais como o fogo
que está em meus olhos com obscura indiferença.

Não são meus o tempo nem o espaço
(e muito menos a matéria).
Eles entram e saem como pássaros
pelas janelas sem portas de minha casa.
Se a atravessasse, sairia em outra sala:
quem fala sou eu, mas nada entendo.

Talvez minha vida seja uma hipótese
que alguém se cansou de imaginar
um conto interrompido para sempre.

Estou apenas escutando estes fantasmas
que no crepúsculo vêm ver-me,
ansiosos de que eu os incorpore:
tu te negarias, sofrerias, te desvanecerias?
Não é meu, lhes respondo, o olhar,
negar seria esplêndido, sofrer, interminável,
estas façanhas não me pertencem.

Mas de repente não posso dissuadí-los,
porque já não ouço minha solidão
e estou cheio, saciado, como o ar,
de meu próprio vazio ressonante.

E continuo dizendo a mim mesmo que não tenho
nenhuma idéia de quem sou,
onde vivo, nem quando, nem por quê.

Alguém fala sem fim em outra sala.
Nada me serve, então. Não estou só.

Estas palavras ficam de fora, incompreensíveis,
como os seixos da praia.

Lucian Blaga (Romênia, 1895-1961)

Há tanto silêncio ao meu redor
que quase consigo ouvir
o luar batendo na janela

Em meu peito
nasce uma voz estranha
uma cadência triste que não me pertence
dizem que os antepassados mortos antes do tempo
ainda com sangue jovem em suas veias
com sangue cheio de paixões
com o sol vivo de amores
vêm
vêm para terminar de viver em nós
sua vida ainda não vivida.

Há tanto silêncio ao meu redor
que quase consigo ouvir
o luar batendo na janela

Quem sabe, alma minha, em que peito cantarás tu também
além destes séculos
que cordas de silêncio vibrarás
em que harpa de trevas afogarás tuas lembranças
quebrarás tua alegria de viver

Quem sabe?
Quem sabe?

Adônis (Síria, 1930- )

Desejo me ajoelhar.
Quero rezar à coruja de asas quebradas.
À brasa, aos ventos.
À morte.
À peste.
Queimar no incenso meus dias brancos,
meus cantos,
meu caderno.
A tinta e o tinteiro.
Rezar a qualquer coisa
que ignore o que seja rezar.

Pablo Neruda (Chile, 1904-1973)

Depois de tudo te amarei
como se fosse sempre antes
como se de tanto esperar
sem que te visse nem chegasses
estivesses eternamente
respirando perto de mim.

Perto de mim com teus costumes
com tua cor e tua guitarra
como estão juntos os países
nas lições escolares
e dois vilarejos se confundem
e há um rio perto de um rio
e dois vulcões crescem juntos.

Perto de ti é perto de mim
e longe de tudo é tua ausência
e tem cor de barro a lua
na noite do terremoto
quando no terror da terra
juntam-se todas as raízes
e ouve-se soar o silêncio
com a música do espanto.
O medo é também um caminho.
E entre suas pavorosas pedras
Pode caminhar com quatro pés
e quatro lábios a ternura.

Porque sem sair do presente
que é um delicado anel
tocamos a areia de ontem
e no mar ensina o amor
um repetido arrebatamento.

Roberto Juarroz (Argentina, 1925-1995)

Mais cedo ou mais tarde
deve-se pôr a mão no fogo.

Talvez a mão possa
aprender antes a ser chama
ou talvez a persuadir a chama
para que tome a forma de uma mão.

E se ambas as coisas falharem,
talvez possam a mão e a chama
resolver-se nos átomos já livres
de uma diferente claridade.

Ou talvez, simplesmente,
aquecer um pouco mais o universo.

Aram Rochert (Madagascar, 1950- )

as mãos talvez nunca mais se encontrem

tão próximas
tão no mesmo corpo
tão na mesma alma
mas incapazes de bater palmas

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Pobre planeta


> O aquecimento global é ainda pior do que se imaginava, afirma o cientista Tim Flannery, especialista em questões climáticas vencedor do Prêmio Australiano do Ano, em 2007. A atual derrocada planetária foi acentuada com a exportação do modelo econômico mais predatório que a civilização humana já conheceu: a globalização. Ao mesmo tempo, nunca se falou tanto em sustentabilidade em todos os segmentos. Resta saber se a adoção de estratégias de desenvolvimento sustentável virá a tempo de impedir que a devastação se aprofunde. É difícil acreditar que poderá ocorrer um freio na trajetória rumo ao abismo, uma vez que ao atual sistema econômico só existem as lógicas do lucro, da produção incessante, do consumo e do marketing falacioso.

> O cultivo de cana-de-açucar para produção de etanol -vendido como panacéia energética pela mídia desavisada e governos- começa a invadir a Floresta Amazônica. Como tanto as leis como seu cumprimento têm pouca validade no Brasil, só existe uma forma de conter este avanço ou de minimizá-lo: certificar toda a cadeia de produção do etanol e exigir selos verdes semelhantes aos que hoje existem para madeira (o Smart Wood, do FSC). Quem não cumprir regras de preservação do meio ambiente; de manejo florestal sustentável; de inserção das comunidades locais no processo produtivo; de atendimento á legislação trabalhista e ambiental do país, não poderá exportar. Ou seja: fica sem vender, sem dinheiro. A exigência do selo terá que vir dos compradores europeus e americanos, porque esperar pela aplicação das Leis brasileiras para impedir o fim da Amazônia, equivale a entregar a região para a formação de desertos. De areia ou de monoculturas.

> O maior empecilho para o entendimento entre os seres humanos não está na comunicação entre as pessoas, mas na relação da pessoa consigo mesma, na sua incapacidade de reconhecer o mundo como ele é. Somos prisioneiros de nossa subjetividade e do nosso mundo interior, colocando sempre nossos desejos e fantasias em primeiro plano. É do choque entre estas bilhões de subjetividades -cada uma querendo uma coisa, sem qualquer solidariedade ou preocupação com o outro- que resulta o caos do mundo atual.

A humanidade

A conferência que o Mestre ia pronunciar se chamava "A Destruição do Mundo". Ela havia sido largamente divulgada e muita gente compareceu aos jardins do mosteiro para escutá-la.
Em menos de um minuto, a conferência terminou. O Mestre apenas disse:

“Estas são as coisas que exterminarão a raça humana:

A política sem princípios.
O progresso sem compaixão.
A riqueza sem esforço.
A erudição sem silêncio.
A religião sem risco.
O culto sem consciência.”

(Por Anthony Mello)

Video relacionado

Solo le pido a Dios

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Uma parábola chinesa – adaptada a partir da narrativa de Hermann Hesse


Um ancião chamado Chunglang tinha uma pequena propriedade na montanha. Aconteceu um dia que um de seus cavalos fugiu e seus vizinhos vieram oferecer-lhe sua solidariedade. O ancião, imperturbável, disse então:

-Talvez isso não tenha sido uma desgraça!

E eis que vários dias depois, o cavalo regressou e trouxe consigo toda uma manada de cavalos selvagens. De novo vieram os vizinhos, desta vez para felicitá-lo pela boa sorte. Mas o velho da montanha lhes disse:

—Talvez isso não tenha sido um acontecimento afortunado!

Com tantos cavalos, o filho do velho chinês tornou-se aficionado por montá-los, até que um dia caiu de um deles e quebrou a perna. Outra vez, os vizinhos foram visitá-lo para oferecer-lhe sua solidariedade e novamente o sábio lhes respondeu:

-Talvez isso não tenha sido uma desgraça!

No ano seguinte, vieram até as montanhas os mensageiros dos “Cajados Compridos”. Vieram para recrutar jovens fortes, para exercer a função de mensageiros do imperador e para carregar sua liteira. O filho do ancião, que ainda se encontrava com a perna quebrada, não foi levado.

Chunglang sorria.

********


Hermann Hesse

Um dos maiores escritores de todos os tempos, o alemão Hermann Hesse (1877-1962) é um caso à parte na literatura ocidental. Filho de pastores cristãos que pregaram o Evangelho na Índia, Hesse foi não apenas um escritor que dominou com maestria seu ofício, mas um indivíduo carismático cuja sabedoria levou milhares de jovens, nos anos 60, a aclamar sua obra como um libelo contra a sociedade consumista e mecanicista. Seu nome, durante as famosas rebeliões estudantis de 68, tornou-se sinônimo de luta contra o conformismo e o materialismo e da busca pela paz interior e exterior.

Desde o início, com "Peter Camenzind", a obra de Hesse espelha o reconhecimento da permanente dualidade que habita o ser humano e a necessidade de superá-la pelo reencontro consigo mesmo, rumo à harmonia e à unidade. "Demian", um clássico psicológico do chamado 'romance de formação', mostra -ao contrário de mediocridades comerciais como Harry Potter- o envolvimento da personagem principal com o misterioso Max Demian, vinculado à esotérica ordem de Abraxas. O comovente "Sidarta", uma releitura livre da vida do criador do budismo e de doutrinas da Antiga Índia, é talvez o livro mais espiritualizado de Hermann Hesse, narrando a trajetória de um jovem brâmane que busca libertar-se do próprio eu e do mundo das aparências.

Outra obra fundamental do escritor alemão foi "O Lobo da Estepe", responsável por levar a brasileira de origem ucraniana Clarice Lispector, com apenas 17 anos, a tomar a decisão de tornar-se escritora. O livro também deu origem a uma das principais bandas de rock dos anos 60-70, The Steppenwolf, cuja música "Born to be wild" fez parte da trilha sonora do maior clássico do cinema da contracultura, "Easy Rider". "O Lobo da Estepe" conta a história do alter ego de Hermann Hesse, Harry Haller, que vive entre a loucura e a genialidade. Um dos capítulos do livro intitula-se, justamente, "Só para loucos".

À medida em que envelhecia, Hesse aproximava sua escrita da mais abstrata e harmoniosa das artes: a Música. Amante de Mozart, duas de suas obras de maturidade mostram a profunda conexão entre música e espiritualidade: "Viagem ao Oriente" e "O Jogo das Contas de Vidro". Este último é considerado, junto com "O Processo", de Franz Kafka, e "A Montanha Mágica", de Thomas Mann, o melhor romance alemão do século 20. "O Jogo das Contas de Vidro" (ou "O Jogo de Avelórios"), de 1943, é também a síntese hesseana na direção de uma utopia que reúna tanto as necessidades mundanas do homem (de jogar e divertir-se), como as espirituais (de encontrar a harmonia e viver em busca da alma e da perfeição interior). Novamente, a obra é recheada de referências às filosofias indianas. Em 1946, Hesse ganhou o Prêmio Nobel de Literatura.

Além de grande escritor, Hermann Hesse foi um poeta das imensidões interiores do ser humano, à semelhança de seus amados conterrâneos Johan W. von Goethe, Frederich Hoelderlin e Rainer Maria Rilke. Morreu dormindo, no dia 9 de agosto de 1962.

Sem consolo

Ao mundo primitivo
não conduzem os caminhos;
nossa alma não se consola
com miríades de estrelas,
nem com rios, bosques e mares.
Nem se encontra uma árvore, rio ou animal,
que penetrem o coração.
Não encontrarás consolo,
Senão entre teus semelhantes.


Livros online

O lobo da estepe e Sidarta (em espanhol)

Videos relacionados

Hermann Hesse

Easy Rider - Born to be wild

sexta-feira, 3 de agosto de 2007

Os mistérios da água


A água tem memória e registra o que ocorre à sua volta, à semelhança dos seres humanos. Esta é a conclusão a que cientistas japoneses e russos chegaram após estudos com a água em diversas condições: sob a forma de gelo, pura, contaminada por esgotos ou mesmo quando presente a manifestações das emoções e sentimentos humanos.

O livro “A mensagem da água”, do pesquisador japonês Masaro Emoto, traz fotografias com o registro de como a água ‘reage’ tanto diante de fenômenos físicos como a poluição ambiental, como de emoções, casos do amor e do ódio. Os resultados da pesquisa foram confirmados por acadêmicos russos, como o cientista Iúri Rakhmanín, vice-presidente da Academia das Ciências Naturais: “A água é uma fonte de energia e armazena informação. Ela pulsa oxigênio e hidrogênio”, diz. O vídeo (com áudio em espanhol) Os segredos da água (clique no título para assistir), com cerca de uma hora de duração, apresenta depoimentos e experimentos sobre o tema.

Histórica e curiosamente, a ex-URSS (e atual Rússia) sempre esteve na vanguarda das investigações supra ou paranormais, muitas vezes desdenhadas -ou apenas temidas- pela Ciência convencional. Não por acaso, foram os russos que criaram a chamada fotografia Kirlian, pela qual é possível registrar os movimentos do campo bioeletromagnético dos seres vivos conhecido como aura.

Embora o mecanismo que demonstre como a água armazena informações ainda não esteja inteiramente explicado, a descoberta deverá contribuir para um avanço na compreensão do funcionamento de medicinas como a homeopatia e Florais de Bach. Na homeopatia, a matéria-prima original utilizada para a formulação do remédio é diluída (dinamizada) até não deixar traços; e nos Florais de Bach não há nenhum agente diluído, exceto a água exposta ao sereno da madrugada. Ambas medicinas são reconhecidas e recomendadas pela própria OMS – Organização Mundial da Saúde.

As imagens a seguir mostram cristais de gelo vistos sob as lentes de um microscópio. As legendas são auto-explicativas. As fotos revelam ainda outra curiosidade: quanto mais harmoniosas as formas assumidas pela água, maior sua semelhança com as células de uma colméia, o núcleo de formato hexagonal onde as abelhas depositam seu alimento (o mel) ou que serve de berço para as operárias do reino das flores. Há 300 milhões de anos, esta forma se mantém imutável.




Vídeos relacionados

Os segredos da água

Mensagem da água

Leituras recomendadas

"A mensagem da água" – Masaro Emoto

"A vida secreta das plantas" – Peter Tompkins e Christopher Bird

A vida das abelhas (clique no título para ler o texto integral, em espanhol) - Maurice Maeterlinck

sábado, 28 de julho de 2007

Grandes Seres Humanos


O blog Liberdade de Expressão e Cultura inaugura uma seção periódica, destinada a apresentar passagens da vida de homens e mulheres que marcaram o mundo. “Grandes Seres Humanos” trará relatos biográficos de pessoas de reconhecida estatura e integridade moral, intelectual e humana, cuja vida e obra sejam indissociáveis, influenciando beneficamente gerações ao longo dos tempos.

Rabia al-Adawiya

Considerada maior santa sufi [1] dentre as mulheres no Islã, Rabia al-Adawiya nasceu em data desconhecida, em berço humilde e, ainda menina, após a morte dos pais, foi capturada e vendida como escrava. Libertada por seu senhor, que reconheceu nela os sinais da santidade, estabeleceu-se em Basra (cidade do atual Iraque), onde granjeou fama como amiga de Deus [2] e pregadora. A data de sua morte é duvidosa. Supõe-se que tenha ocorrido em 752 da era Cristã (ou 135 da héjira muçulmana) ou em 801 d.C. (185 d.h.).

Atribui-se a Rabia, que levou vida de celibatária, a introdução do tema do Amor Divino no misticismo muçulmano. Acredita-se que sua tumba se encontre próxima de Jerusalém.

Os escritos de Rabia al-Adawiya, bem como sua devoção a Deus e alguns de seus diálogos, reportam também a outra grande mística da tradição cristã, Santa Teresa D’Ávila [3].

Passagens da vida de Rabia al-Adawiya

Na noite em que Rabia veio ao mundo, não havia nada na casa de seu pai, que era muito pobre. Nem mesmo uma gota de óleo para untar-lhe o umbigo, nem candeeiro, sequer um trapo para cobri-la. Seu pai já tinha três filhas e Rabia foi a quarta, por isso recebeu este nome.

“Vai até o vizinho e pede-lhe uma gota de óleo para poder acender o candeeiro”, disse a esposa.

Mas o homem havia feito o juramento de que jamais pediria nada a nenhum mortal. De modo que saiu e, nem bem apoiou a mão sobre a porta do vizinho, voltou.

“Não abriram a porta”, informou.

A pobre mulher começou a soluçar amargamente. Neste estado de ansiedade, o homem colocou a cabeça entre os joelhos e adormeceu. Sonhou que via o Profeta.

“Não sofras”, disse o Profeta no sonho. “A menina que acaba de chegar ao mundo é uma rainha entre as mulheres e será minha intercessora diante de 70 mil pessoas da comunidade. Amanhã”, continuou o Profeta, “vá a Isa-e Zadan, governador de Basra. Põe num pedaço de papel o que vou dizer-te: ‘Todas as noites me dedicas cem preces e quatrocentas nas sextas à noite. Ontem foi sexta-feira e me esqueceste. Como expiação, dá a este homem quatrocentos dinares [4] obtidos legalmente’.”

O pai de Rabia acordou e começou a chorar. Levantou-se, escreveu o que o Profeta havia dito e enviou a mensagem ao governador por intermédio de um portador.

“Dêem 2 mil dinares aos pobres”, ordenou o governador ao receber o bilhete, “em sinal de gratidão ao Senhor, que lembrou-Se de mim. Dêem também quatrocentos dinares a este homem e digam-lhe: ‘Desejo que venhas para que eu possa conhecer-te. Mas não me parece correto que um homem como tu se apresente diante de mim. Seria melhor que eu fosse à tua casa para esfregar meu rosto à soleira da tua entrada. De toda forma, juro por Deus, faz-me saber acerca de qualquer coisa que necessites’.”

O homem recebeu o dinheiro e comprou todo o necessário.

*******

Uma noite, Rabia estava orando em seu quarto quando o cansaço a invadiu e ela adormeceu. Seu sono era tão profundo que, quando uma farpa da esteira em que dormia entrou em seu olho, fazendo-a sangrar, ela não percebeu.

Então, um ladrão entrou e roubou seu chador (lenço). Quis sair, mas o caminho se fechou. Deixou cair o chador e partiu, com o caminho aberto. Voltou a pegar a prenda e o caminho voltou a fechar-se. Mais uma vez deixou cair o chador. Fez isso por sete vezes, até ouvir uma voz que vinha de um canto do quarto: “Homem, não te arrisques a tanto. Há muito tempo que ela se encomendou a Nós. Como poderia um ladrão ter a audácia de levar seu chador? Não te arrisques a tanto. Se um amigo adormece, outro Amigo está desperto e vigia.”

*******

Um dia, Rabia foi às montanhas. Rapidamente foi rodeada por uma manada de cervos, cabras, pássaros e asnos selvagens que a contemplavam. De repente, chegou Hasan de Basra, que, ao ver Rabia, dirigiu-se a ela. Assim que avistaram Hasan de Basra, os animais saíram correndo, deixando Rabia a sós. Isso entristeceu Hasan.

“Por que fogem de mim e se aproximam de ti com tanta docilidade?”, perguntou Hasan.

“O que comeste hoje?”, devolveu Rabia.

“Um pouco de cebola”.

“Comes a riqueza deles”, assinalou Rabia. “Como então não fugiriam de ti?”

*******

Numa primavera, Rabia entrou em seu quarto e colocou a cabeça para fora da janela. Sua serva então lhe disse: “Senhora, vem para fora para ver as belezas feitas pelo Criador”.

“Melhor seria que tu entrasses”, respondeu Rabia, “e viesses ver o Criador. A contemplação do Criador é o que me ocupa, de modo que não me interessa olhar o que Ele fez”.

*******

Um erudito de Basra visitou Rabia quando esta se encontrava doente. Sentado junto a seu leito, o homem se dedicou a falar mal do mundo.

“Amas demais o mundo”, comentou Rabia. “Se não o amasses tanto, não farias tanta menção a ele. É sempre o comprador quem critica a mercadoria. Se tivesses terminado com o mundo, não o mencionarias nem para bem nem para o mal. Não deixas de nomeá-lo porque, como diz o provérbio, quem ama algo o menciona com freqüência”.

*******

Quando chegou a hora de Rabia morrer, os que estavam em seu quarto saíram e fecharam a porta. Então, ouviram uma voz que dizia: “Oh, alma em paz, volta a teu Senhor, afortunada!” Passou um instante. Nem um som se escutou vindo da habitação. Abriram a porta e encontraram Rabia morta.

Depois de sua morte, foi vista em um sonho. Perguntaram-lhe: “Como foi teu encontro com Munkir e Nakir[5]?”. Ela respondeu: “Esses jovens se aproximaram de mim e me questionaram: 'Quem é teu Senhor?' Eu respondi: 'Ide e dizei a Deus: Com tantas milhares e milhares de criaturas, Tu não esqueceste a uma velha e frágil mulher. Como eu, então, que só a Ti tenho em todo o mundo, poderia ter-Te esquecido, para que me mandasses alguém para me perguntar ‘Quem é teu Senhor’?”

Orações de Rabia al-Adawiya

Oh, Deus, concede tudo aquilo que me deste de coisas mundanas aos Teus inimigos. E tudo aquilo que me concedeste no outro mundo, dá-o aos Teus amigos, pois estar Contigo me é suficiente.

Oh, Deus, se Te venero por medo do inferno, queima-me nele; e se te venero esperando o Paraíso, exclui-me dele. Mas se Te venero por Ti mesmo, não me negues Tua eterna beleza.

Oh, Deus, todo meu propósito e meu desejo neste mundo, acima de tudo, é lembrar de Ti. Assim como, no outro mundo, entre todas as coisas que virão, é encontrar a Ti. Isso é o que vem de minha parte. Faze o que seja da Tua vontade.

Leituras recomendadas

Memorial dos Santos – Melhor obra (hagiografia) existente sobre santos muçulmanos –ou ‘amigos de Deus’, como são chamados no Islã. Foi escrita pelo mestre sufi, poeta e também santo Fariddudine Attar (autor de um dos principais livros do esoterismo islâmico, “A Conferência dos Pássaros”, editora Cultrix).

“Memorial dos Santos” biografa 72 santos islâmicos, dentre os quais Rabia al-Adawiya, de onde foram extraídas as passagens mencionadas no Liberdade de Expressão e Cultura. Título da obra em espanhol: “72 Santos Sufis”, de Farid ud din Attar, editorial Hastinapura, impresso na Argentina.

Poemas de Rabia (em inglês).

Sufismo (resumo, em espanhol)

Dicionário breve de termos citados

[1] Sufis – Termo originário do árabe ‘suf’, ou lã, em português. Há várias versões sobre a origem dos sufis, mas há consenso entre as 'turuq' (plural de 'tariqa' ou 'irmandades', no islamismo esotérico) que o sufismo começa com o próprio profeta Muhammad (Maomé), que teria iniciado dois de seus companheiros no caminho do ‘coração’, Abu Bakr e Ali. A palavra sufi remeteria também a um grupo de pessoas piedosas e pobres, que, vestidas de lã, acompanhariam o profeta.

Entre os sinais que caracterizam os sufis estão: a dedicação e o amor a Deus, a obediência ao Alcorão, à shariah (Lei islâmica) e a permanente lembrança de Deus, que é expressa publicamente através do ritual místico conhecido como Zikr (recordação). Outros sinais são o desapego às coisas e riquezas do mundo material; e o amor e a caridade ao próximo. Em árabe, os sufis também são chamados de faquir (pobre), cujo plural é ‘fuqara’. Em persa, são conhecidos como dervixes (derwishs), palavra que também significa pobre.

Há várias fraternidades sufis. Dentre as mais conhecidas na atualidade estão: Naqshbandi, Qadiri, Iachulutia, Allawiya e Halveti-Jerrahi.

[2] Amigo de Deus – Eulialá (amigo de Allah). É como, no Islã, são chamadas as pessoas que vivem exclusivamente para (fazer a vontade de) Deus. A frase é oriunda do patriarca das três grandes religiões monoteístas, Abraão, que era conhecido como “amigo de Deus”.

[3] Dinar – Moeda persa.

[4] Trecho de um poema de Santa Tereza D’Ávila:

-Alma, o que queres de Mim?
-Deus meu, nada, além de ver-Te.
-E o que mais temes em ti?
-O que mais temo é perder-Te.

[5] Munkir e Nakir - Segunda a tradição islâmica, são os anjos que, após a morte, aproximam-se da alma da pessoa falecida e lhe perguntam: "Quem foi teu Senhor?". Se a pessoa responde que seu Senhor foi Deus e menciona o nome do profeta e religião que seguiu, será conduzida para um bom lugar, à espera do Dia do Juízo Final. Se foi uma pessoa que viveu sem Deus, de forma licenciosa e apenas para as coisas do mundo, será conduzida ao Inferno.

domingo, 22 de julho de 2007

Três poemas e pinturas de Ismael Nery


Confissão

Não quero ser Deus por orgulho.
Eu tenho esta grande diferença de Satã.
Quero ser Deus por necessidade, por vocação.
Não me conformo nem com o espaço nem com o tempo,
Nem com o limite de coisa alguma.
Tenho fome e sede de tudo,
Implacável
Crescente.
Talvez seja esta a minha diferença de Deus
que tem fome e sede de mim,
implacável,
crescente,
eterna
— De mim, que me desprezo e me acredito um nada.


Oração

Meus Deus, para que pusestes tantas almas num só corpo?
Neste corpo neutro que não representa nada do que sou,
Neste corpo que não me permite ser anjo nem demônio,
Neste corpo que gasta todas as minhas forças
Para tentar viver sem rídiculo tudo que sou.
— Já estou cansado de tantas transformações inúteis.

Não tenho sido na vida senão um grande ator sem vocação,
Ator desconhecido, sem palco, sem cenário e sem palmas.
— Não vedes, meu Deus, que assim me torno às vezes
irreconhecível a minha própria mulher e a meus filhos
a meus raros amigos e a mim mesmo?

— Ó Deus estranho e misterioso, que só agora compreendo!
Dai-me, como vós tendes, o poder de criar corpos para as minhas almas
Ou levai-me deste mundo, que já estou exausto.
Eu que fui feito à vossa imagem e semelhança.
Amém!
Poema para Ela

Acabaram-se os tempos.
Morreram as árvores e os homens,
Destruíram-se as casas,
Submergiram-se as montanhas.
Depois o mar desapareceu.
O mundo transformou-se numa enorme planície
Onde só existe areia e uma tristeza infinita.
Um anjo sobrevoa os destroços da terra,
Olhando a cólera de um Deus ofendido.
E encontrou nossos dois corpos fortemente enlaçados
Que a raiva do Senhor não quis destruir
Para a eterna lembrança do maior amor.
Ismael Nery - pintor, poeta e filósofo

Primeiro e maior pintor surrealista brasileiro, Ismael Nery (1900-1934) nasceu em Belém do Pará e morreu no Rio de Janeiro, onde viveu desde os nove anos. Entre 1915 e 1920, cursou no Rio a Escola Nacional de Belas Artes. Vai a Paris e conhece Pablo Picasso e Fernand Léger, retornando em 1921 ao Brasil. Neste ano, conhece e se torna melhor amigo do poeta Murilo Mendes, de quem seria mentor espiritual e intelectual.

Em 1927, em outra viagem à Europa, Nery trava contato com integrantes do movimento surrealista, dentre os quais Marc Chagall. A partir deste encontro, que marcaria definitivamente sua obra, aprofunda a visão onírica em seus quadros e desenhos, recebendo também influências de Giorgio de Chirico e outros artistas ligados ao surrealismo. Em 1934, morre precocemente, vitimado pela tuberculose.

Espiritualista e criador do movimento neocristão batizado como ‘essencialismo’, Nery foi enterrado vestindo o hábito dos adeptos de São Francisco de Assis, de quem era profundo devoto. Dele, o crítico Mário Pedrosa disse: “"Era idéia em tudo, bailarino, pintor, arquiteto, poeta e filósofo, moralista e reformador social. Foi um artista total. Daí ter vivido tudo em potencialidades".

Na poesia, Ismael Nery foi considerado um poeta bissexto (autor que escreve eventualmente), mas a qualidade de seus poemas valeu-lhe um lugar na “Antologia de Poetas Brasileiros Bissextos”, organizada por Manuel Bandeira em 1946.

Sites

Desenhos no MAC-USP

Quadros em leilão

Leituras

Recordações de Ismael Nery, de Murilo Mendes, Edusp

História da Arte

terça-feira, 17 de julho de 2007

Brasil é primeiro país da América Latina a ter obra sustentável certificada


O Brasil é o primeiro país da América Latina a ter um prédio ‘ecologicamente correto’, com selo verde reconhecido internacionalmente. A obra, do Banco Real ABN AMRO BANK, localiza-se na Granja Viana, no município de Cotia, na grande São Paulo e está em pleno funcionamento desde janeiro deste ano.

O edifício, de aproximadamente 600m2, conta com vários diferenciais ecológicos, como energia solar fotovoltaica para iluminação da área de auto-atendimento, equipamento para tratamento de esgoto (inclusive bacias sanitárias) e reuso das águas servidas; sistema de aproveitamento de água da chuva; telhado verde. Mais de 50 produtos –conhecidos como ecoprodutos-, que apresentam algum benefício capaz de classificá-los como “amigos do meio ambiente”, foram utilizados na obra, dentre eles tintas e massas corridas naturais sem insumos derivados de petróleo, tubulações sem PVC ou de material reciclado e resinas à base de óleo de mamona, para impermeabilização da fundação do prédio.

Além da excelência em tecnologias e materiais sustentáveis, a primeira construção sustentável do país recebeu há pouco mais de 15 dias uma certificação com validade internacional, conferida por uma entidade baseada nos Estados Unidos, que garante ao mercado o desempenho ambiental da obra.

Para explicar detalhes da obra e sua importância para o mercado da construção civil e para o meio ambiente, o blog Liberdade de Expressão e Cultura realiza uma entrevista inédita com o consultor Márcio Augusto Araújo, do IDHEA – Instituto para o Desenvolvimento da Habitação Ecológica, responsável pela recomendação e orientação no uso de ecoprodutos e tecnologias sustentáveis no prédio do Banco Real.

Liberdade de Expressão e Cultura – O que é uma construção sustentável?

Marcio Augusto Araújo – É um sistema construtivo que planeja todas as intervenções, levando em conta o meio ambiente. Estas intervenções incluem estudos do local (como solo, clima, chuvas, umidade, orientação do sol), de forma a aproveitar o que a própria Natureza oferece.

Com estes dados, é feito o projeto e planejamento da obra, são definidas as melhores abordagens do ponto de vista ambiental, além dos materiais, soluções e tecnologias a serem aplicadas. Define-se também o gerenciamento da construção, de forma que não impacte antes, durante e depois de pronta. Uma construção sustentável segue as diretrizes do conceito de desenvolvimento sustentável, buscando atender as necessidades do usuário atual, preservar o meio ambiente e os recursos naturais e garantir qualidade de vida para as gerações futuras.

LEC – Qual a diferença entre uma casa ecológica e uma casa sustentável?

MAA - Ambas são construções amigas do meio ambiente. Mas há diferenças. Numa casa ecológica, a obra acontece na Natureza, com recursos locais. Usa-se, por exemplo, a terra local para confeccionar blocos (adobe); usa-se mão de obra local; muitas vezes a construção é de tipo intuitiva, sem um projeto preliminar, isto é, cria-se a arquitetura com o próprio processo construtivo, sem projetos e profissionais da área. Este é o caso das construções de terra no Mali (que são maravilhosas!), das habitações indígenas ou mesmo iglus, onde blocos de gelo são usados para construir as casas dos esquimós.

Já numa casa sustentável, a obra é um trabalho multidisciplinar, envolvendo conceitos de arquitetura e engenharia civil, química, antropologia, sociologia, medicina e até mesmo espiritualidade. É uma visão holística da casa como microcosmo (mundo) do indivíduo que a ocupa. Outro dado importante é que construções sustentáveis são urbanas, usam ecoprodutos e tecnologias fabricados em escala industrial, com controle de qualidade, atendendo às normas.
É muito mais importante, hoje, uma casa sustentável do que uma ecológica, pelo fato de que até 2027 mais de 70% da humanidade estarão em grandes cidades. É aí que se deve atuar com mais intensidade.

LEC – O que um edifício desses representa para o meio ambiente?

MAA – É uma verdadeira revolução, na medida em que, se este tipo de construção for adotada pelo mercado, levará indústrias e fornecedores a mudarem seu modo de produção, visando materiais e processos mais limpos. Todos ganharemos.

Os benefícios também abrangem os aspectos de economia e saúde. Quanto mais um prédio investe em sustentabilidade, mais econômico ele se torna em relação a manutenção e gastos com energia, água e saúde do usuário. Se você gera sua própria energia, isso reduz custos e impactos sobre o meio ambiente. Idem com relação à água. Veja algo simples, como coletar e aproveitar a água de chuva, que, numa cidade como São Paulo, em dias de tempestade vai causar enchentes. Com um sistema desses, você economiza no uso da água no edifício para fins não potáveis (Nota do Blog: não se pode beber, cozinhar, nem lavar roupas) e ainda ajuda a evitar enchentes.

LEC - O que uma construção deve fazer para ser considerada sustentável?
MAA - Ela deve funcionar como um organismo vivo. Ela precisa de alimento (água e energia), de saúde (qualidade do ar e do ambiente interno, temperatura, som etc.), de tratar ou eliminar os resíduos que gera, dentre outras funções, para poder ser saudável e feliz. Numa edificação acontece a mesma coisa. Há nove passos para isso, que são os seguintes:
1. Planejamento Sustentável da Obra
2. Aproveitamento passivo dos recursos naturais
3. Eficiência energética
4. Gestão e economia da água
5. Gestão dos resíduos na edificação
6. Qualidade do ar e do ambiente interior
7. Conforto termo-acústico
8. Uso racional de materiais de construção
9. Uso de ecoprodutos e tecnologias sustentáveis

LEC - O que o prédio tem de mais significativo, com relação a materiais e tecnologias?

M
AA - Absolutamente tudo. A obra foi construída de acordo com uma metodologia chamada ACV (Análise de Ciclo de Vida), usando ecoprodutos e tecnologias sustentáveis. Os materiais foram todos estudados, antes que se decidisse seu uso. Por exemplo, os blocos escolhidos para vedação (para fechar as paredes) foram do tipo cerâmico, pois, com eles, se conseguiria manter o edifício com a temperatura interior mais equilibrada, com menos gastos com sistemas de ar condicionado.

Eis uma lista: os tapumes usados na obra foram feitos com placas recicladas a partir de tubos de pasta de dentes; o cimento usado no concreto foi do tipo CPIII, que usa 70% de resíduo de siderurgia em sua composição, resultando em menor uso de matérias-primas virgens e emissão de CO2 (gás carbônico); a areia e a brita eram recicladas de entulho de demolição; os blocos cerâmicos contêm resíduos de celulose da indústria de papel; as placas cimentícias, usadas para fechamento interno de paredes, não têm amianto e têm fibras de PET (poliester extraído das garrafas de refrigerante); a massa corrida e a tinta são do tipo mineral, ou seja, não formam um plástico sobre a parede e permitem que a mesma 'respire', contribuindo para um ambiente interior saudável, sem contaminantes. A obra também contou com controle absoluto de solventes e substâncias tóxicas. Foi feito também um Telhado Verde (N.B.: Na foto acima, o consultor Márcio Araújo orienta a implantação do Telhado Verde), que é uma área de cobertura com vegetação plantada, que serve para climatizar naturalmente o prédio, além de filtrar a água de chuva (que é aproveitada nos vasos sanitários do prédio) e causar um efeito estético e de bem-estar para quem está no banco. Até o piso do estacionamento foi feito com lajotas recicladas.

Com relação a tecnologias, o banco tem energia solar para iluminação da área de auto-atendimento (é o primeiro uso deste gênero no Brasil); no subterrâneo da agência, está instalado um sistema que recolhe todas as águas usadas no prédio, as trata e as devolve em condição de reuso para regar plantas no jardim e lavar a área. As águas da chuva são coletadas em tubulações sem PVC (cuja produção e uso são nocivas ao meio ambiente) e utilizadas nas bacias de descarga dos vasos sanitários. O sistema de ar condicionado é um climatizador, que mantém a umidade relativa do ar segundo os parâmetros adequados para o ser humano (em torno de 60%, segundo a OMS), com ventilação constante do ambiente, com 100% de troca de ar. Todas as làmpadas são de baixo consumo, sem contar os LEDs, que são semicondutores, que iluminam os ambientes com vida útil de 100 mil horas. Na área de paisagismo, além do uso de vegetação do ecossistema local, foram usadas plantas que absorvem toxinas ambientais, utilizando pesquisas da própria Nasa.

Nunca se havia feito nada igual no Brasil. Nos EUA, que é de onde vem a certificação da obra, não existe nada semelhante.

LEC - Como o edifício sustentável pode melhorar a qualidade de vida dos usuários e moradores?

MAA - Em geral as pessoas não se dão conta, mas passamos 2/3 de nossas vidas dentro de algum tipo de edificação. Portanto, é fundamental criar ambientes saudáveis, sem poluentes que possam causar doenças. Isso é básico em obras sustentáveis. Há mesmo indicadores conhecidos como IAQ (Indoor Air Quality/ Qualidade do Ar Interno) ou IEQ (Indoor Environmental Quality/ Qualidade do Meio Ambiente Interno).

A casa é o nosso meio ambiente, enquanto estamos nela. Deve-se criar um ambiente isento da presença de poluentes diversos (como os COVs - compostos orgânicos voláteis), com umidade relativa do ar em torno de 60% (índice determinado pela OMS como ideal para o ser humano), de forma a criar, inclusive, uma proteção para o usuário ou morador em relação à toxicidade do ambiente externo, que é bastante elevada.

LEC - A obra ficou mais cara do que uma construção tradicional?

MAA - Sim. A obra chegou a custar 20% a 30% mais caro do que uma construção comum. Estes custos devem-se, principalmente, às tecnologias sustentáveis implementadas, como o sistema de ar condicionado (que na verdade é um climatizador de ambiente, com um consumo muito menor de energia, além de não desumidificar o ar); a iluminação da área de auto-atendimento por energia solar fotovoltaica; o sistema de tratamento de esgoto doméstico, com reuso das águas tratadas e o aproveitamento da água de chuva. No entanto, se houver um planejamento integrando todas as interfaces sustentáveis da obra desde o princípio, é possível chegar de 1% a 5% de diferencial a mais na obra ou mesmo empatar os custos.

LEC – A obra foi certificada. O que é um sistema de certificação para uma obra sustentável?

MAA – Grosso modo, é um “selo verde” para o prédio. Uma entidade documenta que o edifício tem uma série de características comprovando que ele agride menos o meio ambiente do que um prédio convencional, que é mais saudável e que, por isso, merece um destaque no mercado.

LEC - O Brasil tem uma certificação própria?

MAA - Não, ainda não tem. As empresas certificadoras no país são representantes do sistema norte-americano LEED (da sigla em inglês Liderança em Energia e Design Ambiental), que certificou o prédio do Banco Real. As grandes empresas estão montando uma versão brasileira do Green Building Council (Conselho da Construção Verde), mas, novamente, é um sistema que opera a partir de regras oriundas de países do hemisfério Norte, cuja realidade é muito diferente da nossa.

O maior problema deste sistema que certificou a obra é que ele contempla questões de energia, que é o maior problema das nações do hemisfério Norte, mas não do Brasil, que é um país tropical. No caso brasileiro, é tão importante ou mais contemplar obras que utilizem produtos sustentáveis, uma vez que, em países em desenvolvimento, as questões mais cruciais envolvem a necessidade de geração de empregos e desenvolvimento tecnológico, o que pode ser estimulado por uma demanda da indústria da construção civil por materiais diferenciados.

Sem uma construção sustentável que crie uma verdadeira cadeia, envolvendo fornecedores, fabricantes, prestadores de serviço -ou seja, sem unir todos os elos-, pouco se conseguirá de retorno efetivo para o meio ambiente. É importante estimular um novo mercado, de ecoprodutos e de fornecedores com consciência ambiental. Sem isso, corre-se o risco de trocar figurinhas e de apenas se fazer marketing.

LEC - Qual o melhor sistema de certificação para obras sustentáveis hoje?

MAA - É o australiano Green Star, do Gbcaus (Conselho da Construção Verde da Austrália). Seus parâmetros de avaliação se adequam a nações do hemisfério Sul –casos de Brasil e Austrália. Sua avaliação técnica é bastante profunda e engloba o todo da obra. No sistema norte-americano, praticamente só se contemplam questões de energia e qualidade do ar interior. Ora, se quiséssemos ter usado PVC ou outros materiais cuja produção ocasionam riscos à saúde e meio ambiente, poderíamos tê-lo feito, sem restrições. Se isso não foi feito, é porque, seguindo as recomendações do IDHEA, o Banco Real fincou pé em usar o máximo possível de ecoprodutos e tecnologias sustentáveis.

LEC - Os edifícios verdes são uma tendência no mercado imobiliário?

MAA - No mercado corporativo, os edifícios verdes estão se tornando uma tendência, inclusive porque o discurso ambiental está sendo incorporado pelas grandes empresas, que querem, a todo custo, mostrar que são "ecológicas" (ponha entre aspas, por favor). Hoje, o mercado mundial tem muito mais marketing do que realidade. Apenas economizar energia não resolve o problema da poluição da água, do ar, do solo, dos alimentos e da miséria de bilhões de seres humanos, à margem da economia planetária. Sem incluir uma visão sócio-ambiental, este tipo de construção sustentável corre o risco de se tornar algo para "inglês ver".

A construção civil tem obrigação de melhorar processos e estimular uma indústria de produtos sustentáveis, já que é um dos setores que mais consome matérias-primas e o terceiro maior emissor de CO2 à atmosfera. A produção de cimento sozinha corresponde a 10% de todas as emissões de CO2 do planeta. É absurdamente imenso!. Então, fico muito receoso quando vejo cimenteiras promovendo concursos de “construção sustentável”, sendo que o que elas deveriam fazer seria investir em processos limpos e em produtos que, por exemplo, façam seqüestro de carbono, como o cimento magnesiano que foi desenvolvido na Austrália.

De toda forma, no caso da obra do Banco Real ABN AMRO, posso afirmar que é a construção mais completa e sustentável já edificada no Brasil até hoje e, possivelmente, ainda o será por muito tempo.

LEC - Falamos muito de construções para o mercado corporativo, mas como ficam as construções residenciais sustentáveis?

MAA - Para mim, particularmente, estas obras são fundamentais para a sociedade. Não são as que vão dar mais dinheiro, mas são justamente as construções nas quais as pessoas que moram nas grandes cidades vão viver e ver que, realmente, é possível contribuir com o meio ambiente. E sem sair de casa (risos)!

Na mídia

Jornal "Folha de S. Paulo", edição de 8 de julho/2007 (primeira matéria a sair sobre a obra certificada). Links com acesso apenas para assinantes UOL:




Gbcaus (Green Building Council of Australia)

Defesa do meio ambiente

Greenpeace

Ecoprodutos

Biohaus

Gaiam Realgoods

Tecnologias Sustentáveis

ATA – Associação de Tecnologias Alternativas

Leituras recomendadas

"Agenda 21 para a construção sustentável" - ed. traduzida, escola Politécnica USP

"Arquitetura ecológica" - Ennio Cruz da Costa - editora Edgard Blücher Ltda.

"Eficiência energética na Arquitetura" - Roberto Lamberts, Luciano Dutra, Fernando O.R. Pereira, PW editores, SP

"El efecto de los iones" - Como la electricidad del aire rige la vida y la salud - Fred Soyka e Alan Edmonds, Edaf (Madri)

"Feng-shui - A ciência do paisagismo sagrado na China Antiga" - Ernest J. Eitel, Ground

"Guía de consumo sostenible" - Ma. Antonia García (coordenadora geral), Iberdrola (Espanha)

"La casa y oficina ecológicas - Una guía para construir y comprar hábitats saludables" - Gustavo Garzón, Martínez Roca (Colombia)

"Sustainable Sewerage" - Guidelines for community schemes - R. A. Reed, ITP (Inglaterra)
"Terra - O coração ainda bate (Guia de Conservação Ambiental)" - Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem - editora Tchê

"Una nueva ciencia de la vida" - Rupert Sheldrake, editorial Kairós (Barcelona)